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22 DE ABRIL DE 2007, DOMINGO
por Martins Guerreiro ex-membro do Conselho da Revolução e do MFA
O 25 de Abril de 74
Martins Guerreiro figura fulcral do MFA e do Conselho da Revolução discursou no jantar comemorativo do "25 de Abril" que teve lugar no mercado da Ribeira e apelou à retoma da iniciativa
25 de Abril de 2007


Passados 33 anos o 25 de Abril continua a ser uma fonte de inspiração, esperança e promessas. Os seus objectivos de liberdade e democracia participativa continuam actuais. Isto significa que naquela época não nos preocupámos apenas com o imediato: derrube do fascismo e fim da guerra colonial. Tivemos a visão do futuro apontando caminhos e objectivos que mantêm hoje toda a actualidade, por isso realizar os sonhos e promessas, concretizar as esperanças de Abril é obrigação de todos os que aderiram aos seus ideais.
Realizar Abril é uma forma de concretização da cidadania e de libertação das energias e capacidades de cada grupo e cada indivíduo, contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa e fraterna, onde cada um e todos se sintam realizados e tenham lugar como seres humanos, onde não haverá marginalizados e dispensáveis.
Transformaremos a insatisfação pela não concretização dos objectivos maiores de Abril, em fonte motora de organização e participação na vida da sociedade, obrigando os poderes públicos a trabalhar e actuar no sentido da democracia participativa, política, económica e cultural.
Não temos ilusões quanto aos limites da democracia formal, nem das práticas e culturas dos partidos políticos (apesar de tudo indispensáveis), como não temos quaisquer dúvidas quanto aos objectivos do poder económico de se perpetuar instrumentalizando, se necessário, os agentes do poder político.
Sabemos que o PODER utiliza para se perpetuar, ou pelo menos garantir a sua continuidade no curto prazo, não as qualidades das pessoas, mas sim os seus defeitos, vaidades e fraquezas, originando mecanismos de dependência, submissão e corrupção, criando uma cultura de reprodução de processos e comportamentos.
Sabemos também que nas sociedades actuais e na nossa em concreto a igualdade democrática de todos perante a lei, bem como a igualdade de oportunidades é muitas vezes inversamente proporcional à distância aos centros do poder e directamente proporcional ao poder do indivíduo ou do grupo a que pertence – por isso o empresário tem acesso fácil ao poder e o dirigente sindical ou Movimento social não – mas sabemos também que é possível mudar este estado de coisas e que as sociedades se transformam.
Se conhecermos as linhas de desenvolvimento e as forças transformadoras e soubermos aplicar os valores e princípios que desejamos para a nova fase do desenvolvimento social, não repetindo modelos ou processos viciados, poderemos dar um contributo muito válido e positivo.
Nós que já passamos e sofremos as consequências de muitas situações: Ditadura, guerra Colonial, 25 de Abril/ derrube do fascismo e transição para a democracia, ainda podemos ser um elemento actuante e federador na busca de alternativas e saída da actual sociedade de individualismo, sucesso a qualquer custo, espectáculo, “glória” fácil e anestesia dos que poderiam e deveriam reagir a esta situação.
Esta cultura serve os detentores do poder económico e político, que podem ser individualistas e jogar no sucesso fácil e no espectáculo, mas nós não podemos embarcar nisso. Temos de saber encontrar as formas adequadas de organização, participação e trabalho, temos de saber somar as nossas capacidades, recursos e contributos. Seria um grave erro repetir no nosso trabalho os modelos que criticamos.
Como construir a alternativa? Como responder à nossa insatisfação?
Criando novas formas de organização e participação e usando novos instrumentos disponíveis para combater sem descanso a corrupção, verdadeiro cancro da democracia e grande obstáculo da democracia participativa, aumentando a vigilância, obrigando os nossos representantes democraticamente eleitos a respeitar o direito de cidadania da generalidade dos portugueses, a criar condições para a igualdade de oportunidades, a valorizar uma cultura e motivação de serviço público, de solidariedade, responsabilidade e diálogo.
Exercer a cidadania e a democracia participativa dá trabalho, consome energias recursos e tempo, obriga-nos a corrigir métodos errados, nem sempre satisfaz o nosso Ego, mas sem isso não construímos qualquer alternativa à actual sociedade do mercado e do sucesso como valores últimos.
Esta tarefa não pode ser deixada aos que exercem o poder e controlam o Estado, nem apenas aos aparelhos de conquista do poder que são os partidos políticos. Estes actores não representam os interesses nem servem a generalidade dos cidadãos trabalhadores, dos dispensados e dos marginalizados.
Temos de saber sacudir o conformismo e o comodismo que o poder procura instalar para melhor controlar a sociedade. Temos de saber rejeitar a informação manipuladora e saber tomar a iniciativa, criando mecanismos de confiança recíproca e encontrando as formas, os meios e os recursos que nos permitam alcançar objectivos limitados e próximos, para posteriormente avançarmos mais.
Temos de saber criar estruturas, organizações e movimentos abertos à participação positiva de quem quiser e tiver capacidade para tal.
Temos de multiplicar na nossa sociedade as formas de participação e acção, alargando a nossa consciência cívica e a dos outros e promovendo uma cidadania activa.
Estas formas de organização e acção permitirão realizações concretas e serão instrumentos de limitação do poder dos grupos económicos, bem como de escrutínio e vigilância sobre os seus agentes no poder político.
Não ignoramos que subsiste a questão fundamental de quem exerce o poder do Estado e da sua governamentalização, mas cidadãos conscientes e activos serão muito mais difíceis de instrumentalizar do que cidadãos conformistas ou apenas negativamente contestatários.
O 25 de Abril trouxe-nos a possibilidade de sermos cidadãos conscientes, com capacidade de iniciativa e de acção e isso permite-nos a prazo alterar as relações existentes e substituir o poder.
Usemos a inteligência e o saber que também estão ao nosso alcance.
É também através de pequenas acções e intervenções que se irão afirmando e consolidando os valores da solidariedade, justiça e cooperação. Não nos podemos reservar para as grandes acções e os grandes momentos, porque mesmo estes – como o 25 de Abril – sem as pequenas realizações não materializam as suas esperanças e promessas.
Hoje como ontem, a liberdade, a democracia e a justiça são possíveis, estão ao nosso alcance, dependem em grande parte de nós, da nossa capacidade, engenho, inteligência e memória: Os sonhos de Abril são possíveis.
Saibamos exercer uma cidadania activa e vigilante para que as novas gerações tenham também algumas oportunidades.
Mãos à obra, continuemos a ser em cada momento cidadãos de Abril e realizadores dos seus objectivos.





20 de Abril de 2007
Martins Guerreiro


 

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