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17 DE OUTUBRO DE 2010, DOMINGO
de Carlos Luis Figueira
Cuba, a Continua Surpresa, Até Quando ?
A revolução cubana, a última que nos finais dos anos cinquenta e em pleno clima de guerra fria, após a segunda guerra mundial, através de uma corajosa e genial guerrilha conquistou o poder, substituindo-se a um governo corrupto que tinha transformado o País num bordel, constituíu para a generalidade dos revolucionários de todos os tempos um exemplo de que poderia ser viável, contrariando embora todas as teses até ai predominantes no pensamento marxista-leninista, ser possível mesmo que isoladamente num outro continente e rodeado de forças adversas, operar-se uma transformações radical no modo de gerir a sociedade.

Ou seja, revolucionários chegarem ao poder e passarem a geri-lo em conformidade com novas regras. A simbologia que justamente se arrastou em torno dos seus principais protagonistas quanto à coragem e desapego que demonstraram na conquista do poder e à generosidade no seu abandono, quando optaram por outros caminhos, contribuíram para criar em torno de Cuba uma simbologia de que algo de diferente ali tinha ocorrido, mesmo que passados os tempos a cada ano e a cada viagem as dúvidas se fossem acumulando acerca dos resultados atingidos em relação às esperanças abertas em 58.

As declarações produzidas por Fidel, após longo período de convalescença, e produzidas após e sem mais a transferência de poderes para o irmão Raul, relançam expectativas sobre o evoluir da situação neste País. São, no plano interno da sociedade cubana particularmente relevantes, ter assumido perante o mundo que o modelo económico seguido ao longo de dezenas de anos, não corresponderia às necessidades do Pais e em consequência por decisão seguinte do governo se anunciar o despedimento, numa primeira fase de 500.000 funcionários públicos, num processo que pode atingir um milhão, oferecendo-lhes em contrapartida da perda de emprego, apoios que permitam constituírem as sua próprias empresas em ramos de actividade dos mais diversos. No plano externo é relevante a auto-critica que Fidel produz em relação à crise dos mísseis, admitindo ter sido errado aceitar por imposição da URSS a sua instalação em território cubano ao mesmo tempo que criticava severamente a posição perigosa e arrogante do Presidente do Irão quando à existência do holocausto e ao uso de armas nucleares em conflitos entre entre estados. Ainda no plano interno o reconhecimento da existência de presos por delitos de opinião e a libertação de alguns dos mais mediáticos por razões ditas humanitárias.

Tais factos constituem só por si elementos de enorme relevo, independentemente das consequências que produzirem no interior da sociedade cubana e nas formas do seu exercício do poder, remontando-nos antes às consequências que derivaram do colapso da URSS e dos países ditos socialistas no leste europeu nos finais da década de oitenta e à forma como a solidariedade entre estados ditos socialistas condicionou o desenvolvimento autónomo, politico, económico, social de países com realidades, culturas e estados de desenvolvimento económico particularmente diferentes.

O desmoronamento da URSS teve a terrível consequência em Cuba e em particular para o povo cubano, de terem de enfrentar durante duros anos uma economia de guerra porque viviam numa situação perfeitamente artificial que condicionou o seu desenvolvimento autónomo porque na divisão artificial do espaço económico dito socialista a Cuba tinha-se sido reservado o papel de produtor de cana de açúcar, tabaco e pouco mais. Assegurado que estava o preço artificial da produção de cana e o fornecimento barato e a crédito de petróleo, os cubanos usufruiriam de um nível de vida que não correspondia ao desenvolvimento das forças produtivas da sua economia. Cuba só descobriu o turismo como industria de lazer após o colapso em que mergulhou no inicio da década de noventa. Até ai as reduzidas estâncias balneares não tinham significado económico, destinadas que estavam a acolherem a nomenclatura do poder nos países ditos socialistas e a convites à direcção de partidos e movimentos que consideravam mais próximos da sua influência.

A abertura embora e ainda mitigada à actividade turística obrigou à normalização da circulação do dólar, até ai moeda proibida e simultaneamente à criação de uma dupla moeda de construção artificial ( o peso reconvertivel ) com idêntica cotação ao dólar sem nenhuma correspondência com a realidade económica do País, cujo principal significado seria o de permitir negociar com mercados externos numa posição de maior conforto e sobretudo assegurar alguma capacidade de recuperação de divisas, num pais exaurido após o colapso.

É ainda nesse momento de crise dos balseiros de manifestações de insatisfação e desespero, de fome e de doenças endémicas provocadas por carências alimentares, após anos de falsa prosperidade, que ancorado no prestigio da sua figura de despojado revolucionário que Fidel enfrenta a situação hostil do seu povo, absorvendo com o seu apelo, desencantos e desesperanças. Provavelmente numa situação hoje irrepetível.

É também neste contexto que se anunciam reformas económicas destinadas a permitir alguma actividade privada. Surgem, entre outros poucos exemplos, os “ Paladares “restaurantes privados condicionados embora a economias estritamente familiares, a um número restrito de mesas, a dependerem de fornecimentos dominados por estruturas do estado e, sobretudo, sobrecarregados de impostos. Duraram pouco e serão hoje excepções no universo de uma economia absurdamente estatizada.

A criação de uma dupla moeda através da qual os cubanos podiam ter acesso a bens e serviços que o tradicional peso cubano não lhes permitia, criou ao longos de anos não só diferenças sociais que a revolução tinha prometido eliminar, já que os que trabalhavam na fileira de acesso à dupla moeda ou a divisas múltiplas, por pequenos e pouco qualificados serviços prestados, obtinham um rendimento superior a um quadro formado em anos de ensino universitário, como conduziu à criação de uma economia paralela cujo peso e significado terá hoje uma expressão imensa capaz de amortecer, até agora, uma maior expressão da conflitualidade social.

Ainda neste contexto é necessário não absolver as medidas tomadas ano após ano pela política dos EUA tendentes a bloquear todas as relações da economia cubana com o exterior somadas a acções terroristas protagonizadas em tentativas de invasão do seu território ou em guerra química destinada a destruir culturas ou outros sectores da sua economia. Todas estas acções reiteradas ao longo de anos alimentaram um sentimento antiamericano suportado pelo ódio à máfia que se abriga nas suas fronteiras mas também, há que considerar, ajudou a justificar muitas das suas insuficiências internas.

Aqui chegados importa a meu ver considerar, antes que seja tarde e Cuba como País e povo, voltem a ser o bordel do qual saíram com a revolução, considerar uma solução equilibrada para as seguintes questões que considero fundamentais : o reconhecimento constitucional para a diferença de opinião e a formação de organizações politicas correspondentes, com o que lhes está associado, designadamente, a libertação de todos os presos por delito de opinião ; a realização de eleições livres, o que pressupõe, a normalização do livre acesso à informação; a desestatização da sua economia e o correspondente combate à corrupção, à expansão da economia paralela e aos privilégios de castas, sejam quais forem as suas origens.


cluisfigueira@sapo.pt
2010-10-14


 
Resposta
Enviado por Carlos Luis Figueira, em 30-12-2012 às 16:14:56
É natural que comunistas tenham diferenças de opinião em relação a estes ou outros temas centrais da vida e da construção da sociedade.

Quanto à substância ou aos motivos que suscitaram tão grande estupefação ao nosso leitor diria o seguinte :

A declaração de Fidel sobre a falência do modelo económico presente em Cuba desde a tomada do poder, é uma confissão de um revolucionário acima de todas as suspeitas ;

O valor da liberdade em todas as suas expressões é indissociável da construção de uma sociedade socialista. ( conceito que está plasmado nas Teses do – salvo erro – XV Congresso do PCP )
Estou estupefacto...!
Enviado por Francisco Lourenço, em 18-12-2012 às 19:58:10
Acabei de ler o artigo em cima reproduzido e achei nele reivindicações semelhantes às que são feitas pelo governo dos EUA e por outros governos reaccionários do planeta.
Para quem se diz comunista, acho bastante estranho que se reclame a desestatização da economia, por exemplo, em vez da reformulação da política económica do Estado cubano, a qual deve levar a uma dinamização das suas alavancas económicas.
Pedir também o combate à corrupção em Cuba, é hilariante, vivendo nós num país que talvez seja o paraíso dos corruptos.
Quanto à terminologia empregue pela Renovação de "os países ditos socialistas", é verdade que houve desvios económicos e políticos nos antigos países pertencentes ao chamado bloco de leste, mas, manda a razão que se pergunte aos povos desses países se vivem melhor agora em comparação com esses tempos... a resposta é óbvia!
Caros renovadores, a revolução socialista faz-se com marxistas-leninistas, porque sem a sua vanguarda organizada os trabalhadores dispersos nunca conseguiram, nem conseguirão, vencer a burguesia.
Mas será que vocês estão mesmo interessados nessa revolução política e social que aponto ao socialismo?
Sinceramente, temo que não!

Saudações democráticas.
Pobre Povo
Enviado por Jorge Henrique Moniz Ribeiro, em 13-12-2010 às 21:34:17
Pobres Portugueses que com palas a dirigirem-
-lhes o olhar (quais animais de tracção) só conseguem ver o centro, ligeiramente enviesado para a direita, e têm medo.
Além das guerras liberais, quando é que houve uma verdadeira revolução em Portugal? Afinal a maioria merece o que tem.
semelhanças...
Enviado por Jorge Henrique Moniz Ribeiro, em 13-12-2010 às 21:29:36
Na conclusão parece que está a falar do que Portugal precisa também..., principalmente "combate à corrupção, à expansão da economia paralela e aos privilégios de castas, sejam quais forem as suas origens"
E nós por cá? Vivemos realmente numa democracia ou numa ditadura "legitimada" pelo voto?

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