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26 DE FEVEREIRO DE 2008, TERÇA FEIRA
por António Bica
FUNÇÃO POLÍTICA DOS MEIOS COMUNICAÇÃO SOCIAL
"há que procurar abrir brechas no domínio do poder sobre os meios de comunicação social através da comunicação com os outros cidadãos pela palavra directa, pela internete, pelos telemóveis, procurando aceder ao espaço possível nos grandes meios de comunicação social, organizando jornais locais e outras publicações e por outros meios."
A partir da institucionalização do Império Romano o poder político passou, claramente, a ser definido pela força ao serviço das classes dominantes. Com a adopção do Cristianismo como religião do Estado Romano foi acrescentada ao poder político legitimação religiosa mediante sinais externos vários e o fundamento de que a detenção do poder pelos governantes resulta da vontade de Deus.

Durante o longo período que decorreu desde a consolidação do poder pelo imperador romano Augusto até às revoluções burguesas, porque o poder assentava na força e na legitimação religiosa, a repressão era, consequentemente, a forma de fazer os cidadãos (súbditos na linguagem da época) aceitar o poder.
Com as revoluções burguesas do fim do século 18 e do século 19, fundamentalmente a Revolução Francesa, foi posto em causa, pelas classes burguesas ascendentes, o princípio da definição do poder pela força legitimado pela religião. Adoptou-se da antiguidade clássica pré-imperial o princípio da definição do poder pela manifestação de vontade dos cidadãos, isto é por eleições. Este princípio foi o que se afigurou às emergentes camadas burguesas capaz de definir e legitimar a seu favor o poder. Mas puseram ao sistema eleitoral, como nova forma de definição do poder político, baias para garantir não lhes fugir das mãos: Só os homens votavam e, deles, só os que dispunham de suficiente fortuna pessoal. Em rigor só podia votar quem pertencesse às camadas sociais burguesas.
Mas, como as sociedades são dinâmicas e os que estão na base sempre aspiram a subir, pouco a pouco o poder burguês foi sendo obrigado a estender o direito de voto a camadas cada vez mais alargadas. Na primeira metade do século 20 a burguesia de alguns países, receosa das reivindicações de extensas camadas pobres da base da pirâmide social, ensaiou o regresso ao velho modelo de definição do poder pela força. Foram os movimentos e as experiências políticas fascistas.
Com o fim da Segunda Grande Guerra a linha política fascista foi derrotada e consolidou-se o modelo de definição do poder pelo voto de todos os cidadãos, homens e mulheres, independentemente dos bens que têm e da escolarização.

Como as camadas da base da pirâmide social são as mais numerosas, teve a burguesia de procurar instrumentos de controlo social e político, para captar o seu voto, que não fossem entendidos como repressivos por essas camadas sociais.

As novas tecnologias de comunicação e a generalização da escolarização facilitaram a substituição da acção repressiva como método de controle político pela acção manipuladora sobre a opinião dos cidadãos.
Os métodos de acção não fisicamente violentos para controlo da opinião dos cidadãos foram muito potenciados com a rádio (cuja força de persuasão, na década de 1930, foi habilmente manipulada pelo regime nazi alemão) e com a televisão após o fim da Segunda Grande Guerra.

O poder nos principais países, em especial nos Estados Unidos da América do Norte, promove o estudo das técnicas de manipulação da opinião dos cidadãos através dos meios de comunicação social, com extensão à produção artística, em especial ao cinema e ao romance, para, com maior eficácia, controlar a sua opinião e condicionar o seu voto. São técnicas semelhantes às usadas pelas grandes empresas para levar os compradores a adquirir os seus produtos.
Muitos dos que eram adultos no regime salazarista aprenderam a procurar a verdade escondida nas entrelinhas dos jornais, nas palavras da rádio e nas imagens televisivas. Com as sofisticadas técnicas de manipulação da opinião pública usadas actualmente pelos poderes instalados é mais difícil ler nas entrelinhas da informação que nos chega em cada dia. Há que ser mais vigilante e crítico: cruzar informações, não nos limitarmos a ler os títulos e as caixas das notícias, lê-las integralmente com atenção, procurar perceber os interesses relacionados com os factos noticiados.

E, tanto quanto possível, há que procurar abrir brechas no domínio do poder sobre os meios de comunicação social através da comunicação com os outros cidadãos pela palavra directa, pela internete, pelos telemóveis, procurando aceder ao espaço possível nos grandes meios de comunicação social, organizando jornais locais e outras publicações e por outros meios.

(opinião)


 

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