| 02 DE ABRIL DE 2007, SEGUNDA FEIRA por Carlos Brito Há que retomar a perspectiva de Marx sobre a autogestão social comunista A superação da crise não se fará, de certeza, com a teimosia senil dos que não são capazes de mudar, mas terá que ser feita com estas renovadas e novas forças comunistas que não hesitam em lutar pela mudança de métodos, processos, vias, do próprio paradigma. Entrevista de Carlos Brito
para o Site da RC
P: - Como vês a situação actual do movimento comunista e das vias para a sua próxima evolução?
R: - A meu ver, a crise permanece. Avultam, usando uma linguagem metafórica, as ruÃnas e os escombros do velho M.C.I. (Movimento Comunista Internacional). Mas enquanto vários partidos, como o PCP, continuam mergulhados na poeira do sectarismo, fazendo de conta que nada aconteceu e mantendo-se de facto fiéis aos antigos dogmas derrotados, outros partidos procuram renascer dos escombros através da análise crÃtica e autocrÃtica do passado e, com esses ensinamentos, abrem caminho para o futuro. Com idêntica atitude, surgem novos agrupamentos, movimentos, associações, como a RC, nascidos das rupturas provocadas na luta pela renovação nos partidos que a bloquearam, usando métodos repressivos e sancionatórios. Finalmente, e persistindo na metáfora, florescem por todo o lado núcleos e grupos marxistas com uma visão teórica e uma praxis inovadoras.
A superação da crise não se fará, de certeza, com a teimosia senil dos que não são capazes de mudar, mas terá que ser feita com estas renovadas e novas forças comunistas que não hesitam em lutar pela mudança de métodos, processos, vias, do próprio paradigma. É fundamental que os comunistas se separem inequivocamente do paradigma stalinista do Estado senhor e ditador, burocratizado e repressivo que vigorou na União Soviética e nos paÃses do chamado «socialismo real». É preciso afirmar a união indissolúvel do socialismo com a liberdade e a democracia e o primado desta união em todas as etapas da luta. Como dizia João Amaral: «Não pode haver construção de uma sociedade de progresso e justiça se não houver escrupuloso respeito pela Carta da Democracia, do pluralismo e da liberdade». Por último, há que retomar a perspectiva de Marx sobre a autogestão social comunista em que o Estado progressivamente se retira e em que o desenvolvimento livre de cada qual se converte na condição do desenvolvimento livre de todos.
P: Queres comentar os Encontros Internacionais de Partidos Comunista de que o PCP tem sido organizador e participante?
R: Sim, não queria deixar de referir esses Encontros. É um facto que têm juntado à mesma mesa partidos com linhas polÃticas e concepções ideológicas diferentes, como por exemplo, o que é muito curioso, em relação ao «marxismo-leninismo». O segredo destas reuniões, em que o passado é tabu salvo quando é motivo de exaltação, reside em excluir todas as matérias teóricas e outras eventualmente polémicas. São encontros para produzir a aparência enganadora da continuidade do velho MCI, muito bons para proporcionar viagens e convÃvios de dirigentes, mas não creio que adiantem alguma coisa para a evolução do movimento.
P: Agora com a sua estruturação qual é a viabilidade da RC cumprir um papel «pivot» no despertar do interesse dos comunistas portugueses para uma interrogação sobre os caminhos do comunismo?
R: Julgo que para isso é muito importante a revalorização do trabalho teórico, o debate de ideias, a reflexão crÃtica sobre as boas e más experiências do movimento comunista e, ao mesmo tempo, o estudo sobre a nossa realidade e as actuais formas do domÃnio do capital. O objectivo deve ser o desenvolvimento de uma forte cultura de transformação social, não para formar sábios, mas para assegurar uma intervenção consistente nas batalhas de classe, nas lutas dos trabalhadores no nosso paÃs e no mundo.
É claro que este trabalho teórico não pode deixar de ter expressão pública. O site da RC tem um papel essencial a desempenhar. Livros, de autoria individual ou colectiva, e outras publicações são muito necessários, assim como a intensificação da colaboração em jornais e revistas, que já hoje acontece. Nada disto dispensa a realização de sessões para discussões teóricas onde confrontemos a nossa visão comunista com a de outros, comunistas ou não.
Na minha opinião, o tal papel «pivot», que referes, também se deve realizar na intervenção que a RC for capaz de assegurar noutras áreas.
Um aspecto destacado desta intervenção deve ser a contribuição da RC para a convergência das forças de esquerda sem exclusões (que do meu ponto de vista deve compreender o PCP, o BE, o MIC e os sectores do PS preocupados com o lado social da governação). Acho que RC pode avançar e popularizar ideias, através de debates e iniciativas de diferente natureza, que contribuam para um Programa de Governação à Esquerda que deve constituir a base de uma alternativa à s polÃticas de direita que vigoram.
P: Como vês a situação europeia em termos de posição e perspectiva das forças de esquerda?
R: O impasse em que a União Europeia caiu há dois anos a este parte e a encruzilhada em continua a debater-se, como acaba de ser demonstrado pelas comemorações dos 50 anos do Tratado de Roma, são a clara demonstração das insanáveis contradições da integração hegemonizada pelo capital.
Torna-se hoje muito evidente a crescente necessidade de uma força de intervenção polÃtica dos trabalhadores, coesa, autónoma, supranacional, a actuar dentro das instâncias comunitárias, que contrarie as «soluções» anti-sociais do neoliberalismo reinante e influencie polÃticas favoráveis ao desenvolvimento económico-social no espaço europeu e em cada um dos paÃses membros, incluindo com uma mais justa redistribuição dos recursos financeiros e dos rendimentos.
Eu sou daqueles que espero que o Partido Europeu da Esquerda, agregando comunistas e outras forças de esquerda, possa vir a desempenhar esse urgente papel. Entendo por isso que a RC deve apoiar, sem reservas, o seu reforço e consolidação e, também, por esta forma «assumir a dimensão internacional da luta dos comunistas», como diz Manifesto.
Abril de 2007
Unidade da Esquerda? Sim, mas com respeito pela diferença! Enviado por João Pedro Bernardo, em 02-07-2007 às 10:49:35 Caro Carlos Brito,
Houve algo que compreendi durante os meus anos de militância na JCP e com o meu pai, militante do PCP até ao seu falecimento: a maioria dos militantes do PCP desejam que o partido continue a ser marxista-leninista. Admitem os erros, mas continuam a sustentar que a melhor forma de construir o socialismo é seguindo o marxismo-leninismo. Há que respeitar este ponto de vista, mesmo que não se concorde com ele. Houve um momento, onde essas questões foram levantadas e a resposta foi sempre a mesma. Os outros, aqueles que entendem que o marxismo-leninismo foi um caminho errado, que o partido deveria ter dentro do seu seio outras sensibilidades ideológicas, outras aproximações do marxismo e do socialismo sairam derrotados, daà as saÃdas do partido. Eu também abandonei a JCP já há 14 anos, porque percebi na altura e o tempo veio-me dar razão que não era possÃvel construir uma orientação diferente dentro do PCP.
Uma vez ultrapassada a fase de tentar mudar o PCP por dentro, importa que as alternativas de esquerda que queiram ser mais abrangentes entendam que é preciso contar com este partido, mas também é importante que os militantes e a direcção deste partido marxista-leninista reconheçam sem margens para dúvidas que existem outras forças de esquerda, de raÃz socialista e até marxista que não se identificam com o leninismo. Qualquer projecto de entendimento das forças de esquerda implica que se reconheçam as diferenças programáticas e ideológicas entre elas e se deixem de trocas de acusações. Os marxistas sem Marx Enviado por Tiago Redondo, em 16-04-2007 à s 01:33:03 Ainda bem que o senhor Carlos Brito acredita numa "revalorização do trabalho teórico" e defende "retomar a perspectiva de Marx...", porque pela maneira como subvaloriza a intervenção polÃtica no campo nacional (aliás como todas em todas as posições polÃticas da RC que li), bem precisa de voltar a fazer algumas leituras marxistas. s
Aliás, a "fé" que depositam na constituição dum partido comunista europeu (uma ideia com muitos, muitos anos...) é paradigmática. Pois é... A luta no campo nacional parece sempre muito complicada.s
É, também, difÃcil de disfarçar a empenhada piscadela de olho ao Bloco de Esquerda como (única) tábua de salvação eleitoral da RC.s
Um rumo pantanoso... pelo menos.s
Tiago Redondo Arrogâncias Enviado por António Santos, em 07-04-2007 à s 04:18:43 É fantástico o à vontade com que o Sr. Carlos Brito condena a maior reunião de partidos comunistas e progressistas do mundo. Para Carlos Brito, todas as dezenas de partidos que participam nos Encontros Internacionais são movidos apenas pela vontade de passear à s custas dos seus militantes. Para o Sr. Carlos Brito, a maioria dos comunistas do mundo, são na verdade muito burros... Se não o fossem não gostariam de sustentar partidos que investem tanto trabalho e dinheiro nas festarolas dos seus dirigentes. Proponho que o Sr. Brito funde um novo Partido Comunista Internacional, que ilumine todos os carneiros seguidistas por esse mundo fora e os conduza, qual grande timoneiro, para..... para.... bem.... para.... a social democracia?s Falta o Leninismo Enviado por Duarte Silva, em 05-04-2007 à s 00:19:36 Relativamente a esta entrevista podemos concluir que Marxistas há muitos, mas Leninistas é coisa mais difÃcil.s
Carlos Brito desde que acordou subitamente para os crimes do Leste Europeu tornou-se um novo homem (não um homem novo, entenda-se).s
É também interessante que um ex-comunista continue a ter como missão fundamental da sua vida a análise da acção e funcionamento do PCP.s
s
A realidade, no entanto, demonstra precisamente o contrário de todas previsões apocalipticas de Carlos Brito e demais amigos, o PCP renovou-se e rejuveneceu-se com algumas saÃdas, corrigiu um desvio, está mais forte, coeso e unido. O PCP é agora um Partido Comunista liberto daqueles que o queriam transformar num Partido sem identidade de classe.s | |