
23 DE MARÇO DE 2025, DOMINGO
FONTE: RC
POR: José Cavalheiro
A Defesa e os orçamentos militares da Europa
versão resumida
Para desmontar teoria armamentista em voga na Europa ocidental importa avaliar qual é o dispositivo militar actual nestes paÃses e partir dele para avaliar o que se quer impor de corrida armamentista, com verbas colossais que ameaçam o nÃvel de vida das populações e levantam o espectro do empobrecimento. Este é o resumo do artigo. Veja
aqui a versão alargada.
No momento atual a ameaça que nos é apresentada é o perigo duma invasão russa da Europa, mesmo que não se saiba dar uma resposta cabal a uma pergunta infantil: porquê e para quê?
Comecemos pelo enquadramento histórico das relações entre a Europa Ocidental e a Rússia
Invasões da Rússia por paÃses ocidentais
Invasões Polonesas e Suecas (séculos XVI-XVII), Invasão Napoleônica (1812), Intervenção Aliada na Guerra Civil Russa (1918-1920); Invasão Nazi (1941-1945).
Invasões da Europa ocidental pela Rússia
Expansão do Império Russo (séculos XVI-XIX); Guerras Napoleônicas (1803-1815): Neste caso foi um contra ataque: após a invasão de Napoleão, a Rússia as tropas russas marcharam até Paris em 1814.Primeira Guerra Mundial (1914-1918);Segunda Guerra Mundial (1939-1945): mais uma vez um contra ataque: após a invasão nazi, a URSS contra-atacou e avançou pela Europa Oriental, libertando do jugo nazi paÃses como a Polônia, Hungria e Checoslováquia, mas depois estabeleceu regimes comunistas nesses territórios. A URSS usou força militar para manter o controle sobre seus satélites na Europa Oriental, como na Revolução Húngara de 1956 e na Primavera de Praga em 1968.
Vemos assim que as relações entre a Rússia e a Europa foram marcadas por ciclos de conflito e cooperação. A Rússia, muitas vezes, viu-se como uma fortaleza contra invasões europeias (como as de Napoleão e Hitler), enquanto também expandiu o seu próprio império para paises vizinhos como a Hungria e a Checoslováquia, mas nunca para paises mais ocidentais como a Alemanha ou França, que pelo contrário invadiram a Russia.
A narrativa atual é que a Russia pode invadir os paises ocidentais se não houver um armamento massivo destes paÃses, incluindo Portugal.
Nos tempos atuais a Russia reagiu ao avanço da NATO na Georgia, que ocupou durante 5 dias em 2008. Durante a era soviética, a Geórgia era uma república da URSS. Após o colapso da União Soviética em 1991, a Geórgia tornou-se independente, mas herdou regiões separatistas pró-Rússia, como a Abecásia e a Ossétia do Sul. Essas regiões tentaram a autonomia ou independência, levando a conflitos armados na década de 1990. A Rússia apoiou os separatistas, mantendo tropas de paz nas regiões, tal como faz na TransnÃstria, constituÃda por um movimento separatista em relação á Moldávia.
Nada destas situações complexas permitem concluir que a Russia esteja historicamente interessada em invadir e anexar paises ocidentais, como nos tem sido insinuado por polÃticos e comentadores ao serviço da paranoia securitária que já domina a UE.
A fraude da falta de orçamento e material
Investimento europeu na Defesa
Sobre a alegada afirmação de que os paises europeus não teriam investido em equipamento militar durante as últimas décadas, que números encontramos numa revista de referencia do IISS- Military balance 2025 ?
Gastos com a defesa em 2024 (milhares de milhões de dólares): Rússia 145.9; só 5 paÃses já gastam mais do dobro da Rússia : Alemanha+ UK+ França+ Itália+ Polônia= 294.7 mil milhões de dólares.
Também o equipamento dos paises ocidentais é muitÃssimo superior ao da Russia. Efetivos da Europa versus Rússia : soldados profissionais 2,67/1.13 milhões, veÃculos de infantaria 10.642/3.280, artilharia 18.465/5.157, tanques 8.642/2.730, aviões de combate 2.091/1.224.
Ou seja, ao contrário do que tem sido afirmado, os paises europeus despendem na Defesa atualmente mais do dobro do que a Russia, que está em guerra, e o equipamento disponÃvel nos setores indicados é também muito maior.
Entretanto em Bruxelas, com exceção da Hungria, foi aprovado um pacote de crédito para investimento na Defesa dos paÃses europeus, no valor astronómico de 800.000mil milhões de euros.
Sem uma nova arquitetura de defesa autónoma da Europa estar definida, como sabemos o valor do equipamento realmente necessário? Quem faz um orçamento sem um caderno de encargos, sem identificar primeiro as necessidades para depois procurar adquirir os equipamentos necessários?
De acordo com os tratados da UE, a polÃtica de defesa e a definição de orçamentos militares são responsabilidades primárias de cada paÃs membro.
Situação da Rússia
O número de baixas dos exército russo não é conhecido, mas a generalidade das informações disponÃveis aponta para muitas centenas de milhares, entre mortos e feridos.
Os ataques ucranianos a refinarias e outros objetivos estratégicos causaram grandes estragos ao tecido industrial russo.
Ora se todas as movimentações atuais da Rússia nas periferia das suas fronteiras estiveram relacionadas com problemas de populações de cultura russa nos territórios que mudaram de administração depois de 1990, ou de forma muito mais evidente, quando a NATO pretendeu avançar para esses territórios, a narrativa de permanente hostilidade e suspeição levantada pelos paises mais afastados é um exercÃcio de imaginação que pretende apenas criar o medo, e assim justificar mais um desvio dos fundos europeus para a guerra.
Bases militares europeias versus Russia
Incluindo instalações americanas e da NATO , também neste comparativo a diferença é esmagadora: existem nos paises da Europa ocidental 26 bases contra 7 da Russia.
Segurança e Defesa
Não decorrendo dos tratados europeus qualquer obrigação de entrar numa espiral belicista que adira sem qualquer fundamento á paranoia da ameaça russa, Portugal deve concentrar os seus esforços na identificação das verdadeiras ameaças que tem de enfrentar, e não no embarque acéfalo dos interesses das indústrias de produção de equipamento bélico
Portugal enfrenta diversas ameaças reais na conjuntura atual, tanto no plano interno quanto no externo. Estas ameaças podem ser classificadas em diferentes áreas: segurança, economia, polÃtica e meio ambiente.
Cibersegurança: Infraestruturas crÃticas, como energia, saúde e comunicações, podem ser alvos.
Terrorismo e radicalização: Embora Portugal tenha um baixo histórico de ataques terroristas, a ameaça global do extremismo continua presente, e a degradação das condições sociais é campo fértil para populismos cada vez mais ameaçadores que podem destruir o paÃs por dentro. Muito mais importante que uma fantasiosa ameaça externa, a destruição por dentro do regime deve ser encarada seriamente.
Tráfico de droga e crime organizado, Desinformação e manipulação digital, são áreas importantes para a segurança.
Envelhecimento da população: A demografia está muito dependente do acesso à habitação, num paÃs onde a oferta pública é baixÃssima, seria uma boa aplicação de fundos europeus (como se faz em pequena escala no PRR)
Secas e incêndios florestais: Portugal tem sido severamente afetado por incêndios devastadores. Por exemplo a abertura de corta fogos que impeçam os grandes incêndios, é uma tarefa gigantesca onde se poderiam aplicar recursos públicos.
Subida do nÃvel do mar: As cidades costeiras, podem enfrentar desafios devido à subida do nÃvel do mar. Que medidas têm sido tomadas?
Perante ameaças reais vamos mais uma vez deixar que os grandes interesses mundiais da indústria do armamento absorvam importâncias colossais, que estão a fazer falta noutros setores?