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21 DE MARÇO DE 2025, SEXTA FEIRA
FONTE: RC
POR: José Cavalheiro
Antecedentes da Invasão da Ucrânia
Versão alargada
Recapitulam-se aqui episódios relevantes que estão na base do eclodir da guerra da Ucrânia e da invasão russa. Conhecê-los é a base para conhecer como as coisas começaram e, porventura, saber a origem das coisas será a melhor forma de ajudar a acabar com esta guerra!
Com o desmoronamento da União Soviética e a dissolução do acordo militar, o Pacto de Varsóvia em 1991, a Nato ficou sem mandato. De facto, a Nato criada em 1949, era uma aliança defensiva destinada a opor-se á expansão do regime comunista da URSS e ao poderio militar dos paises de leste.

Com a passagem do regime comunista para um regime capitalista e a dissolução da sua aliança militar, o célebre artigo 5, o princípio central da NATO, que estabelece que um ataque contra um país membro é considerado um ataque contra todos, deixava de ter interesse.

Mas a Rússia continuava a ser um grande país dotado dum exército poderosos e de um grande arsenal nuclear.
Os EUA estavam empenhados e desmantelar o que restava da URSS, explorando todas as tensões. Victoria Nuland, subsecretária de Estado para Assuntos Políticos dos Estados Unidos, deu a garantia de um avultado empréstimo aos revoltosos anti russos e foi uma das principais defensoras da entrega de armas defensivas contra o governo do presidente eleito da Ucrânia Viktor Yanukovych.

Em 2013 Nuland, afirmou que os Estados Unidos haviam investido cerca de 5 milhares de milhões de dólares no desenvolvimento da Ucrânia desde 1991. Esse investimento foi direcionado para fortalecer instituições e apoiar movimentos pró-ocidentais no país. Organizações como a USAID, National Endowment for Democracy (NED) e Freedom House, financiaram ONGs e oferecendo treino militar para grupos políticos favoráveis à aproximação com o Ocidente e contrários à influência russa.

Entretanto a Nato, apesar da extinção do regime comunista foi-se expandindo para Leste, em 1999 com a adesão da Polonia, República Checa e Hungria, e em 2004 com um novo avanço com a adesão de Estônia, Letônia, Lituânia, Eslováquia, Eslovênia, Bulgária e Romênia, que aproximaram bases militares das fronteiras russas.

Em 2013 o governo ucraniano do presidente Viktor Yanukovych estava a negociar um Acordo de Associação com a União Europeia (UE), mas no final de 2013, Yanukovych suspendeu as negociações e decidiu fortalecer os laços com a Rússia, o que gerou grande insatisfação.
Os protestos populares foram acompanhados pela intervenção organizada dos tais grupos nacionalistas que estavam a ser patrocinados através da USAID. Alguns dos membros fundadores e integrantes iniciais do Batalhão Azov estiveram envolvidos nos protestos de Maidan, como ativistas ou voluntários em grupos paramilitares e de autodefesa, muitos deles de orientação nacionalista e neo nazi .

Em fevereiro de 2014, os confrontos entre manifestantes e forças de segurança atingiram o auge, com tiroteios e ataques que resultaram na morte de mais de 100 manifestantes. O uso de franco-atiradores que dum lado são apontados como pertencentes da unidade Berkut (polícia especial ucraniana), e do outro como provocadores de extrema direita, levaram ao golpe de Estado de 2014 na Ucrânia, conhecido como Revolução da Dignidade, ou Euromaidan.

No dia 22 de fevereiro de 2014,o presidente Yanukovych fugiu para a Rússia.

Com a queda de Yanukovych, um governo interino foi estabelecido em Kiev.

O novo governo em Kiev adotou de imediato uma série de medidas que afetaram diretamente os habitantes da região do Donbass, no leste do país. Essas medidas contribuíram para o agravamento das tensões e o eventual conflito armado na região. Algumas das principais ações incluem:
Uma das primeiras medidas do novo governo foi revogar Revogação da Lei de Línguas, com violação da Declaração dos Direitos das Nacionalidades da Ucrania (1991) e do artº 12 º do Tratado de Amizade e Cooperação entre a Ucrania e a Federação Russa (1997): A Lei de Línguas Regionais permitia o uso do russo como língua oficial em regiões onde minorias russófonas eram significativas.
Operações Militares: O governo ucraniano lançou operações militares contra as regiões de Donetsk e Luhansk, que haviam declarado independência após referendos não reconhecidos por Kiev. Essas operações, conhecidas como "Operação Antiterrorista" (ATO), resultaram em confrontos armados e causaram mortes e deslocamentos em massa.

Bloqueio Econômico: O governo ucraniano impôs um bloqueio econômico ao Donbass, o corte de Serviços Públicos, como eletricidade, água e gás, em várias áreas do Donbass.

Para além disso impôs a Restrições à Liberdade de Movimento entre o Donbass e outras partes da Ucrânia, bem como perseguições políticas:
Essas medidas, combinadas com a resistência armada das forças pró-Rússia no Donbass, levaram a um conflito prolongado que resultou em milhares de mortes e um grande número de deslocados internos e refugiados.

Guerra no Donbass (2014)
o Grupos separatistas em Donetsk e Luhansk (leste da Ucrânia) declararam a independência com apoio russo.
o Em abril de 2014, a Ucrânia lançou uma operação militar contra os separatistas.
o Combates intensos levaram milhares de mortes e deslocados.
Intervenção Russa:
o Tropas e armamentos russos reforçaram os separatistas, mudando o equilíbrio do conflito.
o Pressão internacional forçou negociações de paz.
A Rússia respondeu anexando a Crimeia em março de 2014.

Acordo de Minsk I (setembro de 2014)
Assinado por Ucrânia, Rússia, separatistas e OSCE (Organização para Segurança e Cooperação na Europa). Previa o cessar-fogo imediato, retirada de tropas estrangeiras, e autonomia temporária para Donetsk e Luhansk. O acordo falhou.

Acordo de Minsk II (fevereiro de 2015)

As forças separatistas conseguiram cercar as tropas ucranianas em Debaltseve, cortando suas rotas de abastecimento e reforço. Começou assim a guerra da Ucrania, em 2015 e não em 2022, como foi milhares de vezes apregoado. Após semanas de combates ferozes e diante da impossibilidade de manter a posição, as forças ucranianas iniciaram uma retirada em 18 de fevereiro de 2015. A retirada foi caótica e sob fogo pesado, resultando em perdas adicionais.

Foi então estabelecido Acordo de Minsk II, mediado por França e Alemanha . Nesse acordo foi estabelecido o cessar-fogo e retirada de armas pesadas, a autonomia para Donetsk e Luhansk, mas dentro da Ucrânia, e eleições locais nas áreas separatistas.

Posteriormente Poroshenko declarou que os dois acordos tinham tido como principal objectivo ganhar tempo ao exercito ucraniano, declarações confirmadas pela srª Merkel (Der Spiegel 1/12/2022), e também depois ao Frankfurter Allgemeine (24/3/2023) por François Holande ex presidente francês.

Zelensky, que sucedeu a Poroshenko em 2019, pensava e actuou exatamente na mesma (entrevista ao Der Spiegel 9/2/2023).

Ou seja, a França e a Alemanha enganaram deliberadamente a Russia, apoiando um Acordo de Paz para ganharem tempo para preparar a guerra.

Em 2015 a violação do Tratado de Forças Nucleares de Médio Alcance (1987), levou os EUA a implantarem na Roménia (2015) e Polónia (2018), um novo sistema anti míssil, mas que também serve para disparar misseis ofensivos como os Tomahawk, que demoram menos de 12 minutos a chegar a Moscovo.

Entretanto o regime que resultou do golpe de estado continuou a permitir o avanço dos grupos nazis e a sua integração em unidades do estado ucraniano.

Em Abril de 2015 o presidente Poroshenko, um oligarca milionário apoiado pelos EUA, lançou a “Operação Antiterroristaâ€, para sufocar a sublevação no Donbas, em que as operações foram entregues á Guarda Nacional, que incluía os batalhões do Azov, Kulchytsky Jaguar e Omega, unidades para militares banderistas .

Os bandeiristas eram admiradores de Stepan Bandera. Segundo a Wikipedia , fora da Ucrânia - e sobretudo na Polônia Bandera é condenado como colaborador dos nazistas, antissemita e criminoso de guerra, sendo apontado como o principal responsável pelo massacre de civis poloneses (1943–1945) na Volínia - uma operação com características de limpeza étnica. É também considerado corresponsável pelo Holocausto na Ucrânia, que vitimou mais de um milhão de judeus soviéticos.

Em Junho de 2020 podia ler-se numa reportagem do Público:

“A Ucrânia é hoje um dos principais pólos de atracção para a extrema-direita internacional e quase quatro mil estrangeiros de mais 35 países já receberam treino e combateram nas fileiras de milícias na Guerra Civil Ucraniana. Uma delas, o Regimento Azov, transformou-se num alargado movimento, criou um Estado dentro do Estado ucraniano, estendeu tentáculos por toda a Europa e quer criar uma Legião Estrangeira ucraniana

….
A Ucrânia é a porta das traseiras para a União Europeia no que à extrema-direita diz respeito, e a ameaça é muito grande. Os indivíduos recebem treino nos campos de batalha ucranianos e depois regressam aos seus países de origemâ€
.

Em Setembro de 2020, já com Zelensky, a Ucrania promulga a Estratégia Nacional de Segurança da Ucrania e em Março de 2021 a Estratégia Militar da Ucrania, onde em ambos os documentos se considera que o inimigo principal da Ucrânia é a Rússia e que esta se deve preparar para a guerra, com a ajuda dos EUA e da Nato.

As disposições bélicas da Ucrania levam-na a construir um dispositivo militar, iniciado em 2014 pelo governo de Poroshenko, com auxílio de instrutores da Nato, em que foram treinados 10.000 soldados por ano, durante 8 anos.

O embaixador ucraniano na Alemanha, Andriy Melnyk, anunciou em 15 de Abril de 2021, a intenção da Ucrânia se dotar de armas nucleares, caso não fosse integrada rapidamente na Nato.

Na declaração conjunta dos EUA e da Ucrania intitulada A parceria estratégica EUA-Ucrania, de 1 de Setembro de 2021, os EUA prometem reforçar a sua ajuda militar á Ucrania, com o envio de armas de guerra avançadas, bem como desenvolver esforços para impedir o funcionamento do gasoduto North Stream II, para impedir que a Alemanha tenha acesso a gás barato exportado pela Russia. Neste particular a administração Biden estava a seguir um dos pontos recomendados pela Rand Corporation, no seu relatório de 2019, “Extending Russiaâ€, dentro da estratégia claramente explicitada de enfraquecer a economia russa, reduzindo a sua exportação de gás natural.

O impasse continuou até 2022, quando a Rússia usou o "fracasso de Minsk II" como uma das justificações para reconhecer Donetsk e Luhansk como independentes, antes de invadir a Ucrânia.

Principais justificações apresentadas pela Rússia:
Proteção de Populações de Língua Russa, particularmente nas regiões de Donetsk e Luhansk;

Desnazificação:
O governo russo alegou que a Ucrânia estava sob o controle de elementos neonazistas e que a invasão era necessária para "desnazificar" o país.

Prevenção da Expansão da NATO e Interesses de Segurança Nacional alegando que a Ucrânia poderia tornar-se uma base para agressões ocidentais contra a Rússia. Isso inclui a preocupação com o desenvolvimento de capacidades militares ucranianas e a presença de armas ocidentais no país.

Reconhecimento das Repúblicas de Donetsk e Luhansk:
Pouco antes da invasão, a Rússia reconheceu a independência das autoproclamadas Repúblicas Populares de Donetsk e Luhansk, regiões separatistas no leste da Ucrânia. A Rússia justificou a invasão como uma medida para proteger essas entidades e garantir sua segurança.

Revisão da Ordem Internacional:
A Rússia também expressou insatisfação com a ordem internacional existente, argumentando que ela é dominada pelo Ocidente e não leva em consideração os interesses e preocupações da Rússia. A invasão foi vista por alguns como uma tentativa de reafirmar a Rússia como uma grande potência global.

Resposta Internacional:
A comunidade internacional, incluindo a ONU, a UE, os EUA e muitos outros países, rejeitou amplamente as justificativas da Rússia, classificando a invasão como uma violação da soberania e integridade territorial da Ucrânia. Sanções econômicas e políticas foram impostas à Rússia em resposta à invasão, e o conflito continua a ter sérias implicações globais.



 

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