20 DE MARÇO DE 2024, QUARTA-FEIRA
FONTE: RC
A resposta necessária dos comunistas é a convergência à esquerda
A Renovação Comunista apela ao debate sobre a derrota eleitoral e quer contribuir para que se encontre um instrumento político de intervenção que dê força à ideia comunista. Como linha política a Renovação Comunista reitera que em Portugal, nesta fase histórica, o país precisa de construir um vasto compromisso entre esquerda e centro esquerda para devolver ao País a esperança numa sociedade que vença as desiguldades.
Ainda sem resultados definitivos e sem se dispor dos arranjos parlamentares prováveis que suportarão o futuro governo, é possível reconhecer no imediato a sensível derrota do conjunto da esquerda e do centro-esquerda nestas eleições.
Para a esquerda à esquerda do PS, para o PCP especialmente, este resultado não é apenas negativo, nem é apenas uma expressão de resistência obtida em condições de adversidade.
No caso do PCP, segue-se este resultado a um longo declínio fruto de uma linha política errada e que muitos comunistas, e a Renovação Comunista em concreto, não têm deixado de criticar e de batalhar a favor de uma ampla reconsideração de linha política.
Há muito que o PCP navega numa orientação que não procura, de todo, a conquista de uma maioria democrática e progressista de governo para o país, em convergência com outras forças democráticas. Mesmo os efémeros acordos de maioria parlamentar, com o PS e o BE em 2015, que trouxeram a muitos comunistas a esperança de uma inflexão de estratégia, acabaram por não alterar substantivamente a orientação anterior.
A linha do PCP voltou rapidamente ao que era, depois da rotura orçamental de 2019 com o PS, no que se pode chamar de “oposicionismo de esquerda”, levando à desmobilização dos trabalhadores que deixaram de confiar no PCP como alavanca para influenciar a formação de um governo de convergência à esquerda.
Pelo contrário, os dados sugerem que as forças à esquerda que defenderam saídas de convergência com o PS, sem abdicarem da sua identidade, acabaram por serem menos penalizadas eleitoralmente ou conseguiram mesmo progredir, como aconteceu sobretudo com o Livre.
A recusa ou incapacidade para intervir na disputa e na construção de uma maioria de governo, por via da defesa de políticas de fundo e de reformas, é a principal razão da derrocada eleitoral do PCP nestas eleições, que aliás sucedeu depois das já muito alarmantes perdas eleitorais em 2022.
Para além disso, a conduta do PCP é errada porque assenta numa visão isolacionista da política de alianças que em vez de privilegiar a convergência com o centro-esquerda, alinha antes mais, de um modo geral, no confronto com o partido socialista, muitas vezes evocando a imagem de que seria o PS o inimigo principal.
É errada, igualmente, na relação praticamente inexistente, recusada mesmo, de colaboração com outras forças de esquerda, em confronto de resto com o seu longo passado de orientação unitária.
E é errada, ainda, na sua visão soberanista que não contempla um combate unitário, alargado, para a remodelação e transformação do projeto de cooperação dos povos no espaço europeu, antes declara mais ou menos explicitamente que o PCP tem por objetivo o regresso à mera autarcia nacional, como se não fosse a construção internacional um eixo identitário do ideal comunista.
Finalmente, é errada porque obstaculiza qualquer discussão interna e externa do que deveria ser a orientação comunista para a transformação em sentido socialista.
Sem dúvida que os resultados das outras forças de esquerda são preocupantes também e merecedores de ampla reflexão e têm razões específicas que importa analisar.
Mas aos comunistas, interessa antes de tudo avaliar a situação a que se chegou e a forma de a conjurar, com rapidez e com audácia.
Os comunistas têm todos os motivos para se alarmarem com a perda de influência do PCP, não por qualquer defesa saudosista do seu património político de luta, que é de resto absolutamente extraordinário, mas porque a perda de força da esquerda à esquerda do PS, no presente, acarreta uma redução de influência da ideia comunista, e perda do seu papel transformador, em relação ao que deveria ser o seu lugar de força propulsora do avanço histórico em sentido socialista.
O regresso às vitórias e, designadamente, o regresso à maioria de centro-esquerda e esquerda no país, capaz de sustentar a constituição de um governo da esquerda plural, depende em grande medida da reorganização e reconstituição políticas no espaço comunista em Portugal, da sua clarividência em desbravar o caminho da transformação social. É por isso necessário que os comunistas fora e dentro do PCP encontrem formas de articulação e espaço de debate para empreender na recuperação.
Sem um campo comunista dinâmico e com um programa de transformações para conquistar a democracia económica, social e cultural, não será possível forjar a convergência necessária nem mobilizar as classes populares para a luta por uma nova política.