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Os fundadores da RC, Edgar Correia, Carlos Brito, João Amaral e Carlos Luís Figueira
05 DE MAIO DE 2018, SÁBADO
FONTE: RC
POR: Carlos Brito
NOS 200 ANOS DE MARX
MARX E A RENOVAÇÃO COMUNISTA
Os 200 anos do nascimento de Marx é uma oportunidade para celebrar o pensador que mais radicalidade transformadora trouxe e melhor rasgou a perspectiva do comunismo. Carlos Brito, vem sublinhar aqui como o nascimento da Renovação Comunista está indissociavelmente ligado a Marx e como a sua intervenção procura inspirar-se no "velho das barbas", nascido há 200 anos em Trier, na Alemanha. Evocamos a fotografia histórica dos quatro impulsionadores da formação da Renovação Comunista, Edgar Correia, Carlos Brito, João Amaral, e Carlos Luís Figueira.
Completam-se hoje, dia 5 de Maio, os 200 anos do nascimento de Karl Marx, intensamente celebrados, ao longo dos últimos doze meses, pelas forças progressistas de todo Mundo.

Na circunstância, julgo importante recordar que a Renovação Comunista foi fundada sob o lema do regresso a Marx, não de forma escolástica e recitativa, mas retomando o método, a análise, a perspectiva e o pensamento crítico por ele inspirados.
O seu manifesto fundador, intitulado Para um Manifesto de Renovação Comunista, aprovado em 22 de Março de 2003, esclarecia:

A renovação comunista retoma a radicalidade do caminho aberto por Marx, assumindo que um propósito verdadeiramente transformador, para mais num quadro de profundas mudanças, não é concretizável sem um exigente e permanente esforço de conhecimento da realidade e em constante interacção com a prática.

Em tempo marcado pelo desaparecimento da União Soviética e a implosão do chamado «socialismo real» no Leste Europeu, o documento não hesitava em observar com ousadia crítica:
A principal razão porque o marxismo foi congelado nos partidos comunistas é que o seu desenvolvimento teria conduzido ao questionamento das opções que os países do “socialismo real” abraçaram (…) E teria conduzido à necessidade de aprofundamento da propriedade social, de afirmação de um efectivo modo de produção, apropriação e distribuição socialista, de fortalecimento da democracia e da cidadania.
A Renovação Comunista regozija-se, hoje, com os sinais que parecem indicar que, embora timidamente, há da parte dos marxistas-leninistas um certo descongelamento de Marx. Sem poderem deixar de assinalar os 200 anos do nascimento do autor do Capital, parece que já admitem que a valorização do papel de Marx, sem imediato elogio a Lénine, não representa uma traiçoeira adesão ou cedência oportunista à social-democracia, como acontecia entre nós, há 15 anos, quando Renovação Comunista foi fundada.

A influência do pensamento e da personalidade de Marx, num período tão dilatado e com uma audiência tão vasta, não tem qualquer paralelo contemporâneo, fora do domínio religioso.
A razão principal consiste, naturalmente, no acerto comprovado das suas teses essenciais que, apesar disso, não constituem um edifício blindado, mas uma teoria aberta, que contem em si mesma o método do seu desenvolvimento criativo – a dialéctica materialista.

Numa vastíssima obra, ainda assim inacabada, Marx trouxe-nos um novo humanismo, uma outra visão do mundo e um intenso incitamento à luta revolucionária para o tornar melhor, como ele próprio fez, a longo da sua vida,

Trouxe-nos o saber e os instrumentos para pensar a história – o Materialismo Histórico; a sociedade e a natureza – o Materialismo Dialéctico; o futuro – o Comunismo; o caminho – a Prática Revolucionária.

Tudo isto que ele sintetizou de forma lapidar:
Os filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes; a questão, porém, é transformá-lo.
A procura de resposta para esta magna questão da transformação do mundo levou Marx a encontrar-se com a classe cuja vocação histórica é o revolucionamento do modo de produção capitalista e a final abolição das classes – o proletariado, como escreveu no Prefácio á segunda edição de O Capital.

Abordada em muitas outras das suas obras, é no Manifesto Comunista, escrito a meias com Engels, que a descoberta tem formulações mais sugestiva. Assim:
A burguesia não forjou apenas as armas que lhe trazem a morte; também gerou os homens que vão usar essas essas armas – os operários modernos, «os proletários».

Descritos como a classe verdadeiramente revolucionária, salienta que ela não pode levantar-se, não pode endireitar-se, sem fazer ir pelos ares toda a superstrutura das camadas que formam a sociedade oficial.

È o Manifesto Comunista que atesta a comunhão de comunistas e proletários sob a mais famosa palavra de ordem do movimento operário Proletários de todos os países – Uni-vos. O solene compromisso com o internacionalismo, que ninguém, em nenhuma circunstância, ousou alterar e que, provavelmente, tem hoje, em tempo de crise do projecto de integração europeia, mais validade do que nunca.

A «actualidade de Marx» tem sido o traço dominante das celebrações dos 200 anos do seu nascimento. Neste reconhecimento coincidem as esquerdas de todas as sensibilidades, a generalidade do movimento operário, grande parte dos meios académicos, mesmo alguns comentadores de direita e até acérrimos inimigos, estes para darem aparente frescura aos seus conhecidos ataques.

Tão largo reconhecimento não aborda, é claro, o marxismo na abrangência da unidade interna das suas partes constituinte: a filosofia, a economia política e o comunismo.

A saliência tem sido dada à economia política, especialmente, a análise do capitalismo e das suas contradições, nomeadamente, a algumas das categorias mais marcantes: as crises cíclicas, a mais valia, preços e salários, a teoria do valor, a lei da baixa tendencial da taxa de lucro. São elas que explicam as velhas e novas grandes agonias com que o sistema se debate, mas ao mesmo tempo, fazem luz sobre as velhas e novas formas de exploração dos trabalhadores e as profundas desigualdades sociais e regionais, nunca resolvidas e constantemente exacerbadas.

Mas pouco se falou da contradição entre carácter social da produção e a apropriação capitalista privada, considerada por Marx a contradição principal do modo de produção capitalista e que, na análise marxista, o levará à cova. O silêncio explica-se…

Já a luta de classes foi trazida a debate tanto pelos defensores do marxismo como pelos seus inimigos mais acérrimos.

Os primeiros para salientarem como, nas condições do capitalismo globalizado, ela continua a ser o motor da luta das massas populares pela emancipação social e nacional, o combate ao autoritarismo e ao fascismo, a luta pela liberdade e a democracia, numa visão e perspectiva internacionalista pois, embora nacionalistas e populistas, têm caráter internacional os novos processos de opressão que se desenvolvem no mundo
Os segundos, para insistirem na velha estafada narrativa que não se atreve a negar a realidade da luta de classes, mas acusa o reconhecimento do seu papel fundamental na transformação progressista da sociedade de ser o causador de conflitos, guerras, invasões, ocorridos nos últimos dois séculos. Chegam a culpar Marx, e a debitar na sua conta, os mortos e feridos dessas tragédias, além de também o culparem pelas injustiças e crimes de regimes políticos que se reclamam do seu nome, mas se construíram funcionaram ou funcionam à margem e contra os seus princípios e valores. É como se culpasse Jesus Cristo pelos crimes da Inquisição, a perseguição aos judeus e todas as perseguições religiosas, cruzadas e guerras santas. feitas em seu nome.

No que respeita à luta de classes, é sabido que não se trata de uma descoberta de Marx, o que ele fez de novo foi teorizar a sua superação revolucionária, rumo à sociedade sem classes, ao comunismo.

Marx não descreveu esta sociedade do futuro. A idealização não quadrava com o seu pensamento materialista. Mas deixou na vasta obra, decorrentes da análise dialética, indicações, notas, observações e pistas dos seus traços principais. Pressupõem o completo enterro do capitalismo, o grande desenvolvimento das forças produtivas, que eram por ele estranguladas, um árduo período de transição. O trabalho individual torna-se social, assim despendido com prazer e sem penosidade numa associação de homens livres. A apropriação é colectiva, mas garante a cada um a satisfação das suas necessidades. Extinta a propriedade privada sobre os meios de produção, as classes vão desaparecendo progressivamente e o Estado, como instrumento de opressão de classe, vai perecendo, substituído pela autogestão social comunista. Cada qual ganha a possibilidade de se aperfeiçoar livremente porque nisso está interessada toda a sociedade. Só com esta plena libertação, terminará a pré-história e se iniciará a verdadeira história da humanidade.

A Renovação Comunista tomou Marx como a sua principal referência ideológica, mas nunca deixou de valorizar, logo no seu manifesto fundador, outras grandes figuras da Revolução, com destaque para Engels, Lénine, Rosa Luxemburgo e Gramsci, pelo seu contributo para o desenvolvimento do marxismo, o reforço teórico e orgânico do movimento comunista e a luta pelas grandes causas por ele sustentadas.

Pela sua parte, a Renovação assumiu, no acto fundador, que o desenvolvimento do movimento teórico, do trabalho do pensamento, de debate de ideias, de criação de uma forte cultura de transformação social – em ligação com a dialéctica do social e do político – constitui uma linha fundamental para o desenvolvimento de uma radicalidade efectica, para a busca de uma nova maneira de fazer politica e para fazer avançar a causa da construção da sociedade sem classes que a nossa época cada vez mais reclama.

É neste quadro de grande relevância da frente ideológica que a Renovação Comunista tem trabalhado e tentado fazer passar a sua mensagem, ao longo dos últimos 15 anos, com esforço e coerência, mas com todas as limitações próprias duma associação política, inteiramente assente no voluntariado.
Ainda assim, acho que podemos dizer: - Temos cumprido!


 

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