 10 DE MARÇO DE 2017, SEXTA FEIRA FONTE: RC POR: Cipriano Justo O off de Paulo Núncio Será que a teia de lavagem de dinheiro conseguiu cumplicidades no próprio núcleo central do Estado e das finanças? A opinião pública exige esclarecimentos e é isso que aqui se pede. A partir do momento em que o Secretário de Estado das Finanças do governo de Passos Coelho se viu encurralado no caso do movimento de capitais para os offshores, tomou a decisão que supostamente iria causar menos danos colaterais: assumir a responsabilidade política pelo caso e demitir-se dos cargos que exercia no CDS. Com essas decisões sacrificiais deve ter imaginado um cenário em que salvaguardava Maria Luís Albuquerque, Passos Coelho, Assunção Cristas e o seu partido das consequências políticas do acontecimento. Concentrando em si o odioso da ocorrência, a direita ficaria liberta para continuar a investir nas duas comissões de inquérito, à CGD e ao processo de contratação de António Domingues, e por essa via continuar a insistir na criação de uma crise política que levasse o Presidente da República a dissolver o Parlamento.
A manobra não estava mal pensada não fosse a circunstância de não conseguir cobrir todas as pontas soltas que entretanto começaram a emergir logo que se começaram a fazer as perguntas certas. Desde o conflito de interesses na altura da sua escolha para o cargo político, o conhecimento das omissões verificadas na transferência de capitais para o offshore do Panamá, uma das principais lavandarias mundiais de lavagem de dinheiro, até à ligação do caso com o escândalo do BES e a associação com algumas das principais figuras do mundo empresarial e político.
Bem vistas as coisas, este episódio dos offshores é só mais uma peça dos movimentos ilegais ou de duvidosa legalidade de capitais, realizados por uma coligação entre o mundo empresarial e o mundo da política que durante anos se movimentou com toda a impunidade, alimentando os mais obscuros interesses privados, promovendo os mais inconfessáveis estatutos individuais e lesando os interesses da economia nacional.
Este, sim, pode constituir a peça que faltava para desvendar a totalidade da promiscuidade e todas as ramificações entre o mundo financeiro e os governos anteriores, configurando a existência de um complexo político-financeiro â margem do escrutínio democrático.
Merece, por isso, uma comissão de inquérito com capacidade, competência e poderes para investigar todos os subterrâneos deste conluio. É preciso puxar pela língua de quem, directa ou indirectamente, teve ligações ou beneficiou com esta fábrica de escândalos.
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