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Capa do livro de Pacheco Pereira
16 DE JANEIRO DE 2016, SÁBADO
FONTE: RC
POR: Cipriano Justo
Cunhal e a difícil política de alianças
A publicação do novo volume da biografia de Álvaro Cunhal por Pacheco Pereira dá o pretexto para reflectir no que foi um traço da ação política daquele dirigente comunista: a política de alianças e convergência. Neste caso com incidência nos episódios da Frente Patriótica. A linha de unidade foi sempre a marca mais exigente daquele dirigente comunista, mas também a que frutificou melhor na transformação política. Faz sentido reflectir nessa herança, agora que os comunistas entraram em compromisso parlamentar com PS e o BE e precisam de se habilitar para as dores da gestão das alianças. De resto, muitos haverá na esquerda que são cépticos e provavelmente estarão disponíveis para voltar atrás. Essa relutância dificilmente joga com a grande herança unitária do PCP.
Este volume da biografia política de Álvaro Cunhal compreende o período entre 3 de Janeiro de 1960 - fuga da cadeia de Peniche com outros dirigentes do PCP -, e 3 de Agosto de 1968 - quando a cadeira de lona em que Salazar estava sentado, no forte de Santo António, se desconjunta e ele bate com a cabeça no chão. Estes quase oito anos da história do PCP são particularmente atribulados, uma vez que as frentes políticas a que tem de dar resposta são várias e complexas. Desde logo, e no plano político-ideológico, o combate ao que ficou conhecido por "desvio de direita" enquanto consequência das conclusões do XX Congresso do PCUS, e que tinha em Júlio Fogaça o seu principal defensor.

Mas este combate vai enfrentar outros desafios. Na política de unidade, as relações sempre tensas com a FPLN a que está associado Humberto Delgado até finais de 1964, altura em que o general rompe com esta frente em resultado das suas ambiguidades e indecisões sobre a luta armada que ele tanto apoiava e desejava. A influência que a FAP de Rui d'Espinay e João Pulido Valente exercem sobre os militantes do PCP, ao defenderem também a via da luta armada como estratégia para derrubar o regime. A dissidência de Francisco Martins Rodrigues, que a partir de Paris desenvolve intensa actividade junto dos exilados políticos. Todas estas cisões são facilitadas e encontram suporte ideológico e logístico no conflito ideológico entre o PCUS e o Partido Comunista da China, na acção da Tricontinental e no foquismo de Che Guevara, teorizado por Régis Debray em "Revolução na Revolução", com os respectivos alinhamentos no movimento comunista internacional e nas outras formações de esquerda.

Todos estes conflitos ideológicos com as inevitáveis incidências partidárias sobretudo nos partidos comunistas europeus culminam com a invasão da Checoslováquia pelas forças do Pacto de Varsóvia, em 20 de Agosto de 1968. Antes, um artigo do Avante!, supostamente da autoria de Álvaro Cunhal, faz a defesa cerrada da experiência checoslovaca declarando que "a Checoslováquia não se desviou da senda do socialismo" nem abandonou o "campo socialista", nem a "cooperação com a União Soviética". A lógica da soberania limitada acabou por ditar o desfecho da que ficou conhecida por Primavera de Praga, acabando o PCP por alinhar com as teses do PCUS e Álvaro Cunhal, em Praga, a romper com Flausino Torres, e em Paris, a procurar explicar a intervenção a Jorge Sampaio e Lopes Cardoso, sem grande êxito, diga-se.

Praga e o maoísmo iriam acabar por deixar marcas bastante negativas na influência política que o PCP tinha sobre o conjunto do movimento unitário, de que só veio a recuperar incipientemente no II Congresso da Oposição Democrática, em 1969, e com maior vigor no III Congresso, em 1973. Desse período devem assinalar-se várias iniciativas que irão marcar o futuro próximo da orientação política do PCP. A publicação de Rumo à Vitória e a defesa do "levantamento nacional" para derrubar a ditadura, que servirá de suporte às teses e conclusões do VI Congresso, realizado em Kiev, em Janeiro-Fevereiro de 1965, onde Álvaro Cunhal é eleito secretário-geral. A publicação de "A Questão do Estado", publicado em Novembro de 1967, por altura do 50º aniversário da Revolução de Outubro, onde Cunhal defende que "É um absurdo pensar que uma revolução pode realizar-se apoiada no aparelho do Estado das classes contra as quais essa mesma revolução é dirigida". Finalmente, o inquestionável apoio do PCP aos movimentos de libertação nacional das colónias portuguesas, expressa numa carta enviada a Lúcio Lara, em Junho de 1962, onde é afirmado por Cunhal que "Tudo quanto pudermos fazer para vos ajudar, tudo faremos", e simbolizado na organização e apoio à fuga de Agostinho Neto e Vasco Cabral, conduzida por Jaime Serra.



 

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