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18 DE JANEIRO DE 2015, DOMINGO
FONTE: O Público
POR: Cipriano Justo
Se é para avançar, avancemos então
Cirpiano Justo refete neste artigo saído no Público sobre a realidade política e o que será necessário alcançar para derrotar a direita.
Nos meses que restam para o acto eleitoral, quanto mais cedo os eleitores tomarem conhecimento do que podem esperar do próximo governo, melhor.

Quando se avança para um projecto político com a intenção de ser submetido ao escrutínio da população, é porque foram consideradas as condições elementares para a tomada dessa decisão, tendo como ambição dar voz e responder a aspirações que não estão a ser consideradas por nenhuma das organizações já existentes.

Considerando o actual espectro político português, é legítimo questionar-se sobre as razões para o surgimento recente de mais organizações políticas que tencionam disputar as próximas eleições legislativas, sobretudo no espaço político-ideológico da esquerda. Para este desdobramento da esquerda terá contribuído a percepção por parte de segmentos significativos da população de que a derrota da actual maioria e do seu projecto político torna-se tanto mais possível, agora e no médio prazo, quanto maior for a base de apoio do governo que resultar da próxima consulta eleitoral, uma vez que as medidas a serem tomadas irão exigir uma complexa combinação de políticas conjunturais de curto prazo que reponham importantes indicadores de bem-estar das comunidades, e de decisões que, no plano internacional, influenciem uma solução favorável quanto ao tratado orçamental e à gestão da dívida.

Se durante o mandato desta maioria todas as medidas sectoriais foram sendo tomadas em função dos termos do memorando de entendimento celebrado com os representantes dos credores internacionais, e das suas sucessivas actualizações, o próximo ciclo político, apesar de herdar um vasto conjunto de compromissos financeiros com incidência nas políticas sociais, terá de inverter aquela lógica, a qual, para se concretizar e ter êxito, vai exigir uma compreensão política e compromissos programáticos que exorbitam as fronteiras naturais das organizações políticas do campo do centro-esquerda e da esquerda. Ora esta equação, contendo a incerteza dos resultados eleitorais que o centro-esquerda e a esquerda irão obter, não pode ficar refém deles.

Tendo em conta os sinais directos e indirectos que os portugueses vêm dando, qualquer solução que recupere os actuais actores político-partidários irá promover um grau de conflitualidade social de que só a direita sairá a ganhar. É por isso que, nos meses que restam para o acto eleitoral, quanto mais cedo os eleitores tomarem conhecimento do que podem esperar do próximo governo, melhor. Se a oposição, por receio da exposição que o combate político implica, mantiver durante muito mais tempo as suas soluções programáticas ao abrigo do contraditório popular, mais dificilmente consegue gerar denominadores comuns e mais incertos serão os seus resultados eleitorais. O que nos ensina a Arte da Guerra? Que se deve atacar o adversário onde ele ainda não está.

Aceitando-se que o que vier a acontecer no Outono deste ano não deixará de ser mais um episódio do combate político da esquerda, desta vez, porém, estão em causa valores que pela primeira vez foram postos em causa e cujos efeitos devem ser interrompidos, sob pena de se tornarem um instrumento de dominação agravada. No próximo Outono não é o socialismo que vai a votos ainda, mas a melhoria das condições de vida para os que foram empurrados para o desemprego, para a pobreza, para o abandono escolar, para a marginalização social, para a doença. À primeira vista parece simples, mas para lá chegar e conseguir-se um acordo o tempo já escasseia. E a obter-se será a melhor e mais concreta contribuição política que a esquerda portuguesa pode dar para que outros, noutras paragens, consigam fazer vingar, por estes dias de Janeiro, o seu projecto político. Que também é o nosso.

Dirigente da Renovação Comunista


 

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