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16 DE DEZEMBRO DE 2015, QUARTA-FEIRA
FONTE: RC
POR: Paulo Fidalgo
Pos-capitalismo: um guia para o nosso futuro, por Paul Mason
Uma recensão por Paulo Fidalgo
Paul Mason é um jornalista inglês responsável por emissões de televisão. Ele foi o editor de cultura e editor digital do canal 4 de notícias inglês. Tornou-se o editor de programas económicos do mesmo canal, em 1 de junho de 2014, uma posição que anteriormente já tinha exercido, mas no programa noturno da BBC2. Publicou agora o livro "post-capitalism, a guide to our future" que vem discutir a crise e as saídas para ela num ponto de vista estimulante para o debate na esquerda.
O livro “pos-capitalismo†de Paul Mason, de 2015, vem da Penguin inglesa, casa de grande prestígio editorial. Talvez ninguém esperasse que uma arma tão maciça (e porventura massiva, também) de denúncia do capitalismo e das suas crises, incluindo a que estamos a viver e que poderá estagnar a economia por mais 50 anos, pudesse surgir da velha Inglaterra.

A Inglaterra é, porém, que não se esqueça, a pátria do marxismo económico, onde Marx e Engels viveram os anos da maturidade intelectual e onde surgiu a obra máxima, O Capital. O sítio tem, portanto, pergaminhos, muitos e poderosos, no campo da economia política e, assim sendo, não é de surpreender esta explosão crítica que ao mesmo tempo é um manifesto, uma visão de transformação económica e social.

Nos cânones do materialismo histórico, ao capitalismo sucederá o comunismo, por via de etapas sucessivas. Sinteticamente, o comunismo traduz-se por um modo de produção baseado na cooperação entre trabalhadores associados. Paul Mason, socorrendo-se de resto da aversão dos clássicos em especularem sobre os contornos económicos e sociais das formações para onde evoluirá o capitalismo, ele foge justamente a definições porventura demasiado fixadas, e recorre à abrangência da expressão pos-capitalismo para se referir ao que se vai seguir ao capitalismo que agora conhecemos. Pos-capitalismo é léxico já antes empregue por filósofos como Istvan Meszaros, marxista da escola húngara, para designar as experiências da URSS e de países do leste. E procura dar-nos as pistas para os contornos do que vai seguir-se, sem a preocupação de nos recortar com artificial nitidez essas etapas vindouras. Em todo o caso, que fique claro, pos-capitalismo é uma efetiva viragem anti-capitalista que pode ser encadeada no velho sonho comunista para a humanidade.

Paul Mason, desafia os disparates de comentadores reacionários que aplaudem a injeção de dinheiro pelos governos em resposta à crise do subprime. Ele mostra-nos como o subprime foi, antes de tudo, uma bolha de fiat money, dinheiro falso, fiduciário, emitido, em moeda e em montes de meios de pagamento pelos opacos mecanismos do capitalismo financeirizado. Ora, o que fizeram os governos em resposta aos capitalistas e banqueiros assustados? Injetaram muito mais fiat money no sistema, com responsabilização dos contribuintes de todo o povo. Pelas fontes citadas por Paul Mason, a dívida global, combinada, dos bancos, famílias, companhias, e dos Estados, aumentou desde o início da crise em 57 triliões de dollars, para 3 vezes o produto mundial global. Faz portanto todo o sentido duvidar que, em última análise, se responda à crise deitando mais gasolina na fogueira. E sabemos como há bem antigas prevenções para a tentação do crédito ilimitado ou descontrolado.

Podemos, por exemplo, lembrar a velha tese da Rosa de Luxemburgo no seu Reforma ou Revolução de 1900, capítulo 2: “o crédito em vez de contribuir para destruir ou mesmo atenuar as crises é, pelo contrário, um seu agente poderoso. Não pode ser de outra maneira. A função específica do crédito consiste – exposta muito esquematicamente – em corrigir tudo o que o sistema capitalista pode ter de rigidez, introduzindo-lhe a elasticidade possível, em tornar todas as forças capitalistas extensíveis, relativas e sensíveis. Só consegue, evidentemente e por isso mesmo, facilitar e agudizar as crises que se definem como o choque periódico entre as forças contraditórias da economia capitalista.â€

Para alguém como eu que me tenho batido por retirar dos obscuros baús do marxismo, velhas discussões interrompidas por desvios e funestos eventos, a obra de Paul Mason traz-nos o imenso prazer de rediscutir intensamente as velhas querelas bolcheviques. Ele pega nos socialdemocratas da IIª Internacional, Hilferding e o seu “Capital Financeiro, discute com a grande figura económica do bolchevismo de esquerda, Evgueny Preobrajensky e o seu Novaya Ekonomika e com Trotsky, os problemas das opções económicas do bolchevismo. Entra profundamente no debate entre Trosky e o celebérrimo e celebrado génio económico soviético Kondratiev autor da teoria económica dos ciclos longos, e do seu colaborador, o grande matemático Slutsky, para afirmar a perenidade e presciência das suas ideias. Dá-nos acesso a preciosas informações e tomadas de posição de Trostky em oposição a Kondratiev, fala-nos do meeting em Moscovo no Instituto da Conjuntura na rua Tverskaya, em 1926, onde se reuniu a elite bolchevique para discutir com Kondratiev e Slutskty a teoria dos ciclos longos. O ambiente foi de vibrante debate e nele pontificou Bogdanov, um médico, grande figura do bolchevismo, autor de textos filosóficos importantes, mas igualmente da novela de ficção científica Red Star, onde se discute o futuro de uma sociedade comunista no planeta Marte. Bogdanov, nesse meeting, não terá divergido do conceito de ciclo longo, mas sim da mecânica que o impulsiona, se é uma escassez de investimento de capital se é a força da inovação tecnológica. Bogdanov, favoreceu, nesse debate, a tese da inovação tecnológica.

Em todo o caso, Paul Mason, mostra como não haverá avanço no pensamento sem serem retomadas as discussões e prospeções que o estalinismo veio interromper. Discussões no seio do movimento comunista e entre este e a social-democracia.

Na visão de Paul Mason, a toupeira que pode estar a fazer o seu trabalho subterrâneo na economia é a crise estrutural do funcionamento do mercado cada vez mais inundado por bens sem custo marginal. Bens que tendem, portanto, para não terem valor de troca e que se tornam superabundantes. Estão cada vez mais neste caso os produtos de eletrónica e softwares e todo o universo da informação. Neste novo universo, a pressão para o acesso aos novos bens choca com um mercado cada vez mais incapaz de lidar com esta realidade. Preobrajensky, já nos anos 20 do século XX, tinha defendido que as mercadorias na URSS estavam a deixar de o ser, e estavam a tornar-se em produtos, de uma natureza não mercantil. É claro que a visão de um sistema baseado na troca mercantil que se desvanece pela perda de valor inerente, pode desencadear uma visão alternativa e que é a que se origina na economia ante-diluviana, na aceção de Marx (Teorias das mais-valias), da renda da terra. Estes bens detidos em monopólio são arrendados e cobram renda como mecanismo de extração de sobre-produto, porque puncionam a mais-valia, reforçando uma forma de capitalismo financeirizado e não constituindo necessariamente o caminho para o seu colapso, mas para o seu prosseguimento em novos moldes. Em todo o caso, o facto salientado por Paul Mason, faz todo o sentido, pois que hoje, nada justifica a enormidade das rendas que se pagam pela utilização de bens que não têm custo. O que não faz sentido é o monopólio da posse desses bens.

Paul Mason, na sua visão de tipo manifesto, elenca o projeto zero em cinco pontos, com forte aposta na socialização do sistema financeiro, tornada necessária pela obvia bancarrota do dito sistema e pelas tropelias criminosas de que está manchado. Contempla forte aposta numa política ecológica que impeça o aquecimento global de atingir níveis catastróficos para os próximos anos e que implica forte investimento em energias alternativas. Em suma, Paul Mason, entusiasma-nos numa prospeção que enche de esperança as vítimas da crise capitalista e das políticas austeritárias do capital financeirizado.

O Pos-capitalismo é uma arma para gerar a alternativa.


 

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