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07 DE JULHO DE 2014, SEGUNDA FEIRA
POR: Cipriano Justo
Primárias, primeiras
Na verdade, as questões de fundo podem ser difíceis de discutir quando há muito peso da conjuntura e das necessidades táticas. Mas vale a pena pensar a fundo nesta questão das primárias, e nessa linha revisitar o legado de Thomas Jefferson e a teoria política da democracia no marxismo que tem origem na Àgora. É o apelo a que se discuta o essencial, para além da tática, o que aqui faz Cipriano Justo.
Seria desmerecer dos valores da democracia defender que a situação que desde 27 de maio se vive no partido socialista é indiferente a quem se situa no espectro político à sua esquerda - sejam partidos políticos, associações, movimentos ou eleitores -, e que só aos seus militantes diz respeito. Sendo exigível que qualquer julgamento que possa ser feito sobre este assunto deva compreender um distanciamento que respeite os limites dos interesses que estão em jogo, a partir do momento em que a intensidade e a extensão do conflito, porque disso também se trata, se tornou público, e por essa razão alvo do escrutínio de todos os portugueses, é do interesse geral que as soluções encontradas pelos órgãos dirigentes do PS para responder ao contencioso instalado possam ser discutidas de maneira a tornar mais informada a avaliação que se fizer do que resultar deste processo. Mau grado as picardias e as emoções à solta que geralmente se instalam nestas situações, deve ser a razão a prevalecer sobre o capital de queixas de ambos os lados porque, no dizer de Thomas Payne, a razão é a arma mais poderosa para combater os erros. Os passados, os actuais e os futuros, acrescentamos nós.

Em política, o momento certo e oportuno para se tomarem decisões e sobretudo para se inovar contém sempre um elevado grau de incerteza. No entanto, reunidos os critérios que melhor possam explicar a decisão, é difícil fugir ao desafio. É uma evidência que a percepção que os eleitores têm dos partidos políticos, traduzido nos valores crescentes da abstenção e dos votos nulos e brancos, representam um sinal consistente de que o modelo de representação político-partidária exige aperfeiçoamentos que promovam a inclusão, no processo das escolhas, daqueles que, não sendo militantes, constituem a base eleitoral mais próxima dos partidos. Por isso, e apesar de envolta na polémica sobre a dimensão da vitória que o PS teve nas eleições de 25 de maio para o parlamento europeu, a decisão de convocar eleições primárias para a escolha do candidato a primeiro-ministro neste partido deve ser entendida como uma medida de consequências que ultrapassam a oportunidade conjuntural e um estímulo à participação política de todos quantos inorganicamente o desejam fazer. Representa sobretudo um significativo alargamento do perímetro da participação democrática, e nesse sentido, para os comunistas, é inquestionável o seu significado político numa altura em que alta finança procura controlar todos os mecanismos de regulação da vida política. Por todas estas razões, a execução concreta desta primeira experiência vai
convocar a atenção do país, muito em especial da cidadania participativa.

Garantida a lisura dos processos, podemos estar, no plano formal, perante um salto qualitativo no método de legitimação das lideranças partidárias sobretudo na sua implicação para a liderança governativa.

Porém, interessa sobretudo, e a esse aspecto os portugueses vão estar particularmente atentos, conhecer o que os candidatos do PS têm para apresentar no plano programático, principalmente o que os separa, considerando que está em jogo uma escolha com implicações na próxima orientação política do país. E aqui todas as atenções irão estar concentradas na reversibilidade dos cortes das pensões e das remunerações dos funcionários públicos, nas políticas activas de emprego, na aplicação dos fundos do QREN e na exigência de renegociação da dívida e do tratado orçamental. Havendo várias versões sobre o sistema de alianças defendido por apoiantes de cada um dos candidatos, espera-se também que este assunto não seja alvo de posições equívocas dada a sua relevância para o sentido da futura governação. Mais do que a dimensão passional que estas disputas por vezes assumem, são aqueles os aspectos prioritários que podem fazer a diferença e contribuir para a mobilização do eleitorado em próximas eleições.







 

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