05 DE JANEIRO DE 2014, DOMINGO
FONTE: Jornal do Baixo Guadiana
POR: Carlos Brito
As más e as boas perspectivas de 2014
O que nos vai trazer este 2014? Tal é a pergunta que todos fazemos e nos fazemos.
Bem se percebe que a resposta que procuramos não tem nada a ver com o enganador optimismo e o escamoteamento da realidade patentes na mensagem natalÃcia do primeiro-ministro, Passos Coelho, e na mensagem de Ano Novo do Presidente da República, Cavaco Silva.
A falta de credibilidade da palavra dos governantes é, há que reconhecê-lo, uma causa agravante da angústia e do sobressalto em que vive a maioria dos portugueses.
O que sabemos seguramente, e eles não disseram, é que vem aà mais um ano de austeridade reforçada e de incertezas generalizadas.
Ao certo, pudemos contar com mais impostos; mais cortes e taxas sobre os vencimentos, salários, reformas, pensões, incluindo as de sobrevivência; mais reduções nos gastos com a saúde, educação e prestações sociais; mais subidas de preços da electricidade, do gás, da água, dos transportes, das taxas moderadoras nos hospitais e de outros consumos de primeira necessidade; novo agravamento das rendas de casa.
Apesar de derrotado no Tribunal Constitucional, o Governo não desiste de mexer nas reformas e subsiste a ameaça de penalizar mais fortemente os reformados.
A cinco meses da saÃda da «troika», o Governo e o Presidente da República falam como se um programa cautelar já estivesse negociado com os credores, ocultam contudo as novas condições que nos querem impor. Tudo indica, porém, que elas compreendem a continuação da tutela estrangeira e o prosseguimento da polÃtica da troika, sem a presença da troika. Para já, serviu de cavaquista desculpa para não enviar o Orçamento de Estado à fiscalização do Tribunal Constitucional, apesar das flagrantes inconstitucionalidades.
É todo este quadro negro que Passos Coelho e Cavaco Silva tentam amenizar com os alegados «bons sinais» que, segundo eles, estão a ser «dados pela economia». Mas estes são tão frágeis, inconsistentes e imperceptÃveis para população que governantes mais conscienciosos teriam vergonha de invoca-los diante das tremendas desgraças que avassalam grande parte das famÃlias portuguesas.
As perspectivas para o Ano Novo não se reduzem, no entanto, a este quadro negro. Os portugueses dispõem de forças, de meios e de instrumentos para contrariá-lo, modifica-lo e substituÃ-lo. Além dos que o nosso regime democrático-constitucional oferece sempre à s oposições e que têm sido usados intensamente, especialmente pelos trabalhadores, o ano de 2014 será marcado por dois acontecimentos que, em ligação com as condições em que se verificar a saÃda da «troika», muito podem influir no próximo futuro polÃtico de Portugal.
São as Comemorações dos 40 anos do 25 de Abril e as eleições para o Parlamento Europeu, na última semana de Maio.
Em torno de qualquer destes processos, e sobretudo dos dois em conjunto e interligação, podem criar-se dinâmicas de vontade popular tão poderosas que deitem por terra os planos do Governo e do Presidente da República para continuarem a mesma desastrosa polÃtica de austeridade após a saÃda da «troika». Uma grande dinâmica de massas, associado a uma clamorosa derrota da coligação governamental nas europeias, podem forçar a realização de eleições legislativas antecipadas e assim abrir caminho a uma alternativa ao governo de direita e ao empobrecimento generalizado a que, por sua obra, foi reduzido povo português.
A existência desta perspectiva real coloca à s forças que se opõem à actual polÃtica e ao quadro negro do seu desenvolvimento, sobretudo à s forças de esquerda, a indeclinável obrigação de trabalharem com afinco e abertura para ela se concretize. Não se diga que não existem condições objectivas. O que tem faltado é vontade polÃtica. O que tem abundado são sectarismos parolos e ilusórios egoÃsmos partidários que impedem que se veja o interesse comum e o interesse do paÃs.
Merecem por isso ser saudadas as iniciativas, em curso, que apelam à convergência da esquerda, tanto no que se refere às comemorações do 25 de Abril, como especialmente as eleições europeias.
Carlos Brito