
04 DE OUTUBRO DE 2014, SÃBADO
FONTE: Jornal do Baixo Guadiana
POR: Carlos Brito
A nota de leitura de Carlos Brito
"A Porta para a Liberdade" de Pedro Prostes da Fonseca
Pedro Prostes da Fonseca publicou o seu ensaio da histórica (e heróica) fuga de Peniche, um dos atos de maior visibilidade na luta dos comunistas contra o fascismo. Carlos Brito dá-nos aqui a sua nota de leitura sobre o livro.
A PORTA PARA A LIBERDADE
de Pedro Prostes da Fonseca
O autor explica, em Nota no final do livro, que o seu propósito ao escrever A Porta Aberta para a Liberdade foi a «reconstrução do percurso de José Augusto Jorge Alves – o GNR que ajudou Álvaro Cunhal a escapar de Peniche a 3 de Janeiro de 1960 - e da sua família.»
Concluída a minha leitura, faço questão de dizer que, a meu ver, o propósito foi plenamente atingido e que, de caminho, foi escrita a história mais completa sobre a fuga Peniche e o seu enquadramento político e histórico.
A maior novidade do livro é, sem dúvida, a pessoa de José Augusto Jorge Alves que emerge da investigação de Prostes da Fonseca. Para isso segue-lhe a vida, ano após ano, antes e depois da fuga.
O objectivo é compreender como é que um soldado da GNR, a mais militarizada das forças repressivas da ditadura fascista, ousa e arrisca dar a fuga a Álvaro Cunhal e a mais nove destacados dirigentes comunistas.
A sua história significativa começa pela entrada, saída e nova entrada na GNR, que é logo reveladora de um espírito rebelde, instável e de baixo perfil militar, que nunca mereceu total confiança dos superiores. Passa pelo interesse com que acompanha a candidatura de Humberto Delgado e a simpatia que, contra todas as regras, manifesta aos presos políticos. Culmina no suicídio na Roménia, dominado pelo álcool, isolado e incapaz de se adaptar à vida no estrangeiro.
O autor rejeita as referências que são feitas a este singular GNR, em artigos de jornal e autobiografias políticas, que o descrevem como «homem alcoólico e com pouco ou nenhum pensamento político.» Conclui, com fundamento na sua investigação, que o alcoolismo só se manifestou no exílio e acrescenta: «Jorge Alves tinha aversão a Salazar.» «Dizia à mulher que não seria ainda na geração deles, mas que os filhos já iriam ter a possibilidade de viver num país livre.» «Era interessado por livros, dado a boas acções e pretendia mudar de vida por estar farto da GNR.»
A Porta Aberta para a Liberdade conta igualmente a repressão movida pela PIDE à família de Jorge Alves, depois da fuga, e a reviravolta dramática que esta provocou na vida dos seus membros.
Finalmente, também a história da Fuga de Peniche surge depurada de lendas e fantasias e fica devolvida aos factos e ao papel realmente representado por cada um dos protagonistas.
Desta forma lhe é conferida, por Prostes da Fonseca, a maior relevância no percurso de Álvaro Cunhal e do PCP e na luta do povo português pela liberdade e a democracia.
(Publicado por «Matéria-Prima, edições)
Carlos Brito