Por vezes a vida tem destas ironias. No mesmo dia em que Wolfgang Schauble e Vítor Gaspar davam uma conferência de imprensa conjunta em Berlim, com o ministro das finanças alemão a declarar urbi et orbi o programa de ajustamento financeiro português como um exemplo de sucesso, a dívida pública no primeiro trimestre de 2013 já tinha ultrapassado em cinco pontos percentuais a projecção para o final do ano. Recuperando o título de uma obra de Slavoj Zizek, ao mesmo tempo que os portugueses estavam mergulhados numa tragédia, os dois ministros ensaiavam uma farsa.
imagem de Rui Pereira (clicar na imagem para ver em ponto grande)
Convém não exagerar. A opinião pública tende a ver no doutor Gaspar, uma espécie de contabilista agarotado, agarrado à sua máquina de calcular com uma obstinação autista. Na melhor das hipóteses, seria um miúdo lunático que retiraram dum open-space de Bruxelas, para lhe oferecerem um país, convidando-o a pontapear. Algumas más vontades, sempre prontas a diminuir, lembrariam mesmo um maníaco perigoso, obcecado pela desolação dos desertos ou pela humidade pútrida dos lodaçais. Mais desprimorosa é a imagem, desenhada por almas rancorosas, do lulu da Pomerânia, «arf!-arf!», desvelando-se ao mero «Hüpfe!» do dono.
O deputado Fernando Medina tem-se destacado como pivot nas réplicas económicas e políticas ao Ministro Vítor Gaspar, pelo grupo parlamentar do Partido Socialista. Geralmente com excelente preparação e verbo articulado, o deputado Fernando Medina tem sem dúvida ajudado a denunciar o rumo atual da política financeira, da deriva austeritária e dos danos cruéis e enormes que socialmente têm daí resultado. Na sua crítica anti-Gaspar, Fernando Medina, parece estar mais próximo da opção mais keynesiana de responder à crise com medidas contra-cíclicas para assegurar liquidez e dar azo ao aumento da massa monetária em flagrante oposição à posição do governo alemão e dos seus discípulos portugueses.
Muito recentemente, o Financial Times, comentava a expressão “austeridade expansionista” com um trocadilho que funciona bem em inglês entre as palavras “oxymoronic” e “moronic”. O Financial Times comentava o livro recente de Mark Blyth “Austerity history of a dangerous idea” e dizia que a ideia de “austeridade expansionista” não é apenas “oxymoronic” (oximoro é figura de linguagem em que ocorre um falso paradoxo, apesar das palavras terem sentido contrário a formulação faz sentido; um exemplo é a expressão “culpa inocente”) mas é simplesmente “moronic” (que se pode traduzir por “estúpida”).