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17 DE JULHO DE 2012, TERÇA FEIRA
PCP. Ex-dirigente histórico Carlos Brito diz que "estagnação" eleitoral prova que renovadores "tinham razão"
Dez anos depois do último processo de expulsões do PCP, o ex-dirigente histórico Carlos Brito afirma que o movimento dos renovadores "tinha razão" ao pedir mudanças ideológicas e políticas, perante o que considera ser a presente "estagnação do partido".
A expulsão do antigo dirigente Edgar Correia, falecido em 2005, e de Carlos Luís Figueira, foi consumada no dia 19 de julho de 2002, culminando um processo de agitação interna que resultou na formação de um movimento de renovadores comunistas.

Recordando o "processo doloroso" das expulsões, Carlos Brito, que foi na mesma altura suspenso por dez meses e depois se auto-suspendeu, mantendo-se ainda hoje nessa situação, defendeu que "passados dez anos a vida deu razão" aos que exigiam uma mudança ideológica e orgânica no PCP para inverter a tendência de queda eleitoral.

Ao longo de meses, centenas de militantes, nos quais se destacava o antigo deputado João Amaral, falecido em 2003, promoveram encontros para discutir as "causas do definhamento do PCP" e exigir mais democracia interna, atividades consideradas "fracionárias" pelo Secretariado da direção então liderada por Carlos Carvalhas.

"O Carlos Luís Figueira, o Edgar e eu próprio reagimos às sanções dizendo que eram inaceitáveis, aberrantes, ilegítimas e injustas e dissemos que não íamos ficar parados, que íamos continuar. Passados dez anos eu acho que a vida nos deu razão", declarou, frisando que a principal crítica ao PCP era "o seu profundo sectarismo" que "tinha mergulhado o partido na estagnação, impedindo-o de crescer, nomeadamente no domínio eleitoral".

"Passaram dez anos e a estagnação continua e até se agrava. O PCP na sua tradicional coligação eleitoral CDU nunca mais foi capaz de ultrapassar a fasquia dos oito por cento nas eleições legislativas. Quer fossem antecipadas ou não e estivesse o PS ou a direita no poder", acentuou Carlos Brito.

O ex-líder parlamentar do PCP, um dos fundadores da Associação Política Renovação Comunista, disse rejeitar a opinião "de alguns" de que "já não há nada a esperar [do PCP]": "Não tenho por adquirido como alguns dizem, que dali já não há nada a esperar, que aquilo há de ficar assim até à consumação dos séculos...Não, não tenho essa opinião. São pessoas que lá estão, são militantes que vivem os problemas do nosso povo e que estão a refletir sobre o que se passa e eu espero que haja capacidade de renovação e de inovação. Não espero que seja uma questão arrumada", disse.

Quanto ao papel que a Associação Política Renovação Comunista, formalizada em 2006, pode ter nesse âmbito, Carlos Brito afirmou que tem o papel de "promover essa reflexão".

"Não querem [o PCP] dialogar connosco mas a gente dialoga. Dialogando, propomos razões à reflexão dos que continuam dentro do PCP. São irmãos comunistas", acrescentou, defendendo que a unidade da esquerda "é mais que nunca essencial para conter este processo de austeridade que está a matar o país".

A este propósito, Carlos Brito adiantou que vários elementos da Renovação Comunista decidiram aderir ao Congresso das Alternativas, previsto para 5 de outubro, uma iniciativa "que não exclui ninguém" e "é em si mesma bastante positiva".

Contactado pela Lusa a propósito dos 10 anos do último processo de expulsões, o PCP declinou comentar o assunto.

Agência Lusa, publicado no I em 17 de Julho de 2012 - 10:15


 

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