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30 DE SETEMBRO DE 2011, SEXTA FEIRA
Cipriano Justo
O estado de encolher obrigatório
Até às próximas legislativas, sejam elas quando forem, e perante as consequências políticas dos resultados eleitorais de 5 de Junho, se a resposta do centro-esquerda e da esquerda parlamentar aos anos de chumbo social que se começou a abater sobre a vida dos portugueses se mantiver num plano equivalente ao que se passou até à queda do XVIII governo, a direita irá ter pela frente anos de wine and roses bastando-lhe ir renovando os seus actores políticos para manter o mesmo rumo da governação do país.
E não será porque o movimento sindical decida cruzar os braços e resignar-se ou porque a esquerda extra-parlamentar, movimentos sociais, manifestos, greves, e o tutti quanti destas situações deixem de manifestar a sua oposição ao memorando de entendimento e as suas adjacência, porventura com mais radicalidade do que aquelas que se têm verificado agora.

Ainda estamos na fase do primeiro estranha-se. Quando a extensão dos efeitos do encolher obrigatório se fizerem sentir na profundidade das rotinas dos portugueses fazendo delas um quotidiano insuportável, quando as segundas linhas da segurança social – a solidariedade familiar – começarem a abrir brechas, a tergiversação sobre quem foi o culpado talvez dê lugar à necessidade urgente de por cobro à carnificina social que está a atingir a sociedade portuguesa. Congelar vencimentos e pensões, programar o despedimento de funcionários públicos, promover de êxodo de milhares de jovens, aumentar o IVA de bens e serviços, limitar o acesso e a oferta de cuidados de saúde, encerrar e limitar o funcionamento de estabelecimentos de ensino, privatizar o que era rentável para os cofres do Estado, a isto não se chama austeridade. É literalmente um blitkzrieg sobre as condições de vida da maioria absoluta dos portugueses. Sejam eles de direita, de esquerda, dos vários centros ou hipoteticamente de coisa nenhuma. Presume-se que não era bem neste programa que os eleitores que votaram nesta maioria estavam a pensar, ou que ele só se aplicaria aos “malandros†dos eleitores de esquerda. Agora já se sabe que quando as dores atacam, alguns vão conseguindo escapar, mas o critério não é a opção partidária.

Trata-se, portanto, de pensar a resposta política que as actuais condições exigem. As que sumariamente foram inventariadas mais as que resultam de uma desarticulação entre os processos formais e informais de oposição a esta política. Se o movimento de refluxo e o défice de oposição está a ser aproveitado pelo governo para redesenhar o mapa social e económico do país será aí que as perguntas devem ser colocadas. Não as que as tendências dos gráficos respondem. Mas as perguntas que obrigam uma mudança na aplicação dos compromissos assumidos com as organizações internacionais. Isso exige mais do que avanços e recuos tácticos, à velha maneira, mas uma refundação na forma e nos termos dos acordos que a situação exige. E esse objectivo não pode deixar de ser simultaneamente um desígnio: as desigualdades sociais que no todo explicam a situação em que estamos jamais se deverão repetir. Será esse o ponto de chegada para quem estiver disponível para assinar o outro memorando de entendimento.


 

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