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07 DE SETEMBRO DE 2011, QUARTA-FEIRA
Paulo Fidalgo
A Urgência da Acção
Parafraseando livremente um marxista famoso dos nossos dias, Slavoj Žižek, mesmo sem termos bem definido o sentido, o plano e o modelo para onde queremos ir, é urgente a acção para travar a barbárie económica e social. Tanto mais que o modelo é também ele dinamicamente definido e aberto a novos ajustamentos como é natural. A discussão que falta desencadear sobre o que deverá ser o futuro não pode portanto funcionar como álibi para justificar o injustificável: a inacção e a resignação. O que se trata é de convocar a acção consciente para lutar por uma saída alternativa ao pesadelo da política recessiva do grande capital.
São por isso sinal de vitalidade e de primeira reacção popular, porventura à frente até do que seria o papel suposto das elites, as próximas jornadas convocadas para o dia 16 de Setembro pela FENPROF em defesa da escola pública e do emprego dos docentes, a grande jornada de luta convocada pela CGTP para 1 de Outubro e a acção dos movimentos sociais para 15 de Outubro. Na sua diversidade de motivações, surgem todas para gerar força e dar ânimo para que se torne mais visível a premência em inverter o quadro político do país e os trabalhadores e os movimentos de cidadania mostram estar em primeiro plano na geração de condições para essa viragem.

Embora se tenha dito que as interrogações sobre o caminho a seguir, de resto legítimas e carecendo de profunda prospecção, não deverão tolher a acção imediata, não quer isso dizer que se invista no movimento pelo movimento, sem plano ou sem orientação para objectivos políticos transformadores. Pelo contrário, o desafio e a interpelação dos que vão desfilar no país torna ainda mais urgente fazer corresponder ao movimento um plano que torne claro e realista uma nova política, mas igualmente torne credível quais os meios e a sustentação política para esse programa. Programa, mas também política de alianças, eis precisamente o que é preciso desenvolver ao mesmo tempo que os actores desencadeiam a acção popular.

Sem cuidar de entrar em minudências sobre o que é reforma aceitável para barrar a barbárie ou o que será inaceitável para se alcançar uma mudança efectiva, a verdade é que o coro nacional e internacional a favor de uma nova política se faz ouvir de forma cada vez mais ruidosa. Tanto mais que estão a falhar estrondosamente as receitas do grande capital, designadamente do directório europeu e do seu elemento mais resiliente, a Chanceler Angela Merckel. Ergue-se portanto o coro de vozes a favor de um novo mecanismo regulador dos movimentos especulativos do grande capital, a exigência de controlo e registo do movimento dos ditos, e de mais justiça fiscal inclusive de índole supranacional na Europa. Ergue-se cada vez com mais nitidez a reclamação de um novo pólo financeiro com controlo democrático a nível da Europa que, à semelhança do que foi adoptado na época da grande crise de 1929, nos Estados Unidos, passe a financiar as economias por via da emissão de euro-obrigações, no propósito de pôr cobro à crise das dívidas soberanas, mas sobretudo para financiar um plano de crescimento económico e do emprego, desejavelmente com remodelação do próprio modelo de economia alternativo ao que o capital teimosamente nos quer impor apesar da sua evidente bancarrota. O país precisa no governo de quem saiba fazer ouvir a voz na Europa e no Mundo a favor de uma nova política, até porque já estão substancialmente definidas as suas bases técnicas em múltiplos documentos e estudos por personalidades de grande craveira técnico-científica. A questão que um governo democrático deve empreender é portanto a de pugnar em todas as instâncias para abrir caminho a estas medidas sob pena da crise ficar fora de controlo e novos e graves retrocessos acontecerem com o fim do euro e do próprio projecto da União Europeia. Naturalmente que a oposição do grande capital e das suas agências de rating significa que o programa que vem sendo elencado e cada vez mais empunhado à esquerda é pertinente, faz sentido, e é alternativa para fazer a Europa emergir em novas condições de democracia e desenvolvimento.

No plano interno, são igualmente muitas as contribuições para um plano realista de expansão económica e de promoção do emprego, para a sustentação do nosso modelo que a actual direita no governo tanto procura desmantelar e muitas são as medidas de maior simetria na distribuição dos sacrifícios que a crise impõe no sentido de empreender uma recuperação.

Se é já portanto palpável o programa político para atrair uma ampla e diversificada base de apoio, falta ainda tornar visíveis as condições de sustentação política para esse programa, designadamente ao nível das alianças e soluções de compromisso ente as forças de esquerda e, sobretudo, com o PS. Sabemos como o PS trabalha na sua reorganização interna e que o novo secretário-geral ainda depende para a definição do seu discurso e acção da conclusão dos trabalhos do seu congresso. Uma coisa é certa, depois de um longo ciclo politico de maioria aritmética de deputados do PS, PCP e BE, que em nada ou quase nada frutificou em termos políticos, uma nova possibilidade de alternativa que consiga sair vitoriosa no país depende, precisa e incontornavelmente, de resolver tudo aquilo que não foi resolvido no ciclo anterior. Ainda por cima num quadro profundamente alterado em que o país está sob a tutela do programa acordado com a TROIKA e a direita conquistou a maioria parlamentar e a presidência da República. Não há porém alternativa em empreender o diálogo entre as forças de esquerda e em procurar desbravar pontos de convergência que façam sinergia no plano político-institucional com aquilo que os actores sociais desenvolvem na rua. Tanto mais que a pressão da urgência social e económica ajudará a iluminar as soluções e a superar as diferenças que antes pareciam intransponíveis. O momento é pois de darmos força às jornadas de luta que se avizinham.


 

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