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12 DE JUNHO DE 2011, DOMINGO
Travar o Programa da Direita e preparar a Alternativa [projecto]
A esquerda saiu derrotada neste ciclo eleitoral mas tem condições para se reorganizar resistir e preparar uma alternativa.
Muito embora dispusessem de maioria no parlamento, o PS e as forças à sua esquerda não souberem ou recusaram explorar quaisquer possibilidades de convergência que permitissem avanços para os trabalhadores e projectassem o caminho para a saída da espiral de dependência em que Portugal caiu.

O raro momento de convergência, esboçado na candidatura presidencial de Manuel Alegre, foi demasiado hesitante e efémero para alterar os dados da consciência social e política dos eleitores.

Conseguiu a direita empunhar a ideia de que dispunha de condições para formar maioria e retirar o país da grave crise em que se encontra. A crise foi percebida como problema económico, mas também político, dada a situação minoritária do governo do Partido Socialista e a incapacidade de se gerar uma solução consistente à esquerda.

Não obstante a vitória eleitoral da direita, obtida que foi com deslocações de eleitorado do PS mas igualmente do BE e menos da CDU, é sem dúvida de salientar que subsiste um importante pólo eleitoral à esquerda e sobretudo que foi muito vasta a expressão de desconformidade entre eleitores e representantes com avanços na abstenção, votos nulos e brancos e votos em pequenas formações partidárias. A direita ganhou mas não convenceu a maioria aritmética dos recenseados nem sequer dos votos expressos.

Para este resultado são porventura de salientar aspectos prejudiciais no desenvolvimento da luta social no ciclo precedente, onde o economismo das reivindicações sectoriais, desligadas que surgiram de uma clara perspectiva de reforma e de avanço político, fulanizaram a luta contra este ou aquele governante, iludindo as opções políticas de fundo e facilitando escolhas contra-natura do voto à direita. Isto aconteceu em contingentes tão importantes como os professores, a função pública e a magistratura. Voto de protesto esse visto à última da hora como a forma expedita de estes sectores se livrarem do governo de Sócrates, a qualquer preço, mesmo que isso significasse entregar o país às forças do grande capital, tanto mais absolvida que apareceu essa escolha pela demagogia pseudo-esquerdizante que o CDS, soube desenvolver.

Mesmo a emergência nos últimos meses de novas formas de invenção política inorgânica com as manifestações da juventude, exigindo mais democracia e um novo roteiro económico para as novas gerações, em si mesmo um fenómeno muito positivo e pleno de potencial de remodelação política, pode ter acabado por alvejar a esquerda e sobretudo o partido Socialista. A súbita emergência das novas gerações na acção política apanhou de surpresa tanto o Partido Socialista como o BE e o PCP e tarda ainda a necessária adaptação para acolher e dar saliência a este fenómeno.

Pesou certamente a conduta do PS no recente agravamento da crise na procura de compromissos internacionais de austeridade mais e mais penalizadores da situação social na tentativa de escapar a um pedido imediato de resgate pelas instituições financeiras internacionais. Esta táctica não impediu que a amarração do país a politicas ortodoxas impedisse a espiral de dependência e o PS, ao insistir nela, deixou-se enfraquecer na sua base de apoio sem procurar qualquer viregem nas suas alianças e orientação.

Todavia, a orientação do BE e do PCP de recusarem qualquer austeridade primeiro e recusarem depois qualquer pedido de resgate, sem apontar como poderia o país escapar à ameaça de bancarrota, inquietou muitos sectores intermédios e atirou-os para os braços da direita.

Com o avolumar da crise agravou-se a conflitualidade do PCP e BE contra o governo do PS e deu-se então o espectáculo das moções de censura e o voto final em aliança com a direita que motivou a decisão do primeiro ministro se demitir.

A hesitação do primeiro Ministro José Sócrates em confrontar o Presidente da República, o centro da manobra da direita, fez com que este não fosse questionado no seu discurso de 9 de Março de 2011 onde desferiu um ataque premonitório do que se estava a preparar contra o governo em ruptura com o que deve ser o relacionamento entre órgãos de soberania. O ter-se deixado passar este momento merecedor de clarificação permitiu à direita prosseguir os preparativos para o derrube do governo para a altura mais oportuna para a sua agenda. A decisão de ir para eleições aconteceu portanto muito mais segundo um calendário e os interesses da direita do que segundo qualquer perspectiva de reforço popular para uma alternativa.

É ainda de assinalar o autismo da direcção socialista que, perante o desenvolvimento da manobra da direita para a sua derrota, não foi capaz de encetar naquelas semanas qualquer esforço de conversação séria com as forças à sua esquerda permitindo a continuação e aprofundamento da crise.

De facto, o erro táctico de que tanto podem ser acusados o PS e os partidos à sua esquerda, ao avançar para um confronto nesta altura, aconteceu ao mesmo tempo que convergia a direita para assaltar o poder em consonância com a Presidência da República e eram máximas as divisões no campo popular e as vacilações no campo socialista , o inverso do que deveria ser uma situação de ofensiva.

Como pano de fundo a marcar o precedente ciclo de oportunidades perdidas pela maioria de deputados do PS e da esquerda está o facto de PCP e BE não romperem com um o seu verbalismo oposicionista descurando gravemente a construção de soluções concretas para minorar o resvalar da crise capitalista, dando contínuas mostras de não considerarem saídas de compromisso governativo. A percepção de um Partido Socialista que governa, mas à direita, não foi superada por uma esquerda que não serve nem quer governar ou ser parte de saídas de governo.

Contudo, o retomar de iniciativa à esquerda e a construção de condições de uma alternativa, para além da montagem de um forte movimento popular de apoio a uma nova política, implica necessariamente a repetição em novos moldes de uma situação parlamentar de maioria do PS e da esquerda e esse deverá ser o sentido da acção popular.

Só que o mau ensaio do ciclo que agora termina implica necessariamente a correcção dos erros que tanto contribuíram para este desenlace.

Implica o surgimento de uma nova mentalidade de forte compromisso e reclamação em relação à constituição de um governo, implica romper com o economismo das reclamações sectoriais totalmente desligadas de uma ideia de reforma e remodelação com a necessária repolitização do movimento social que não poderá continuar ignorar a premência de reformas profundas na economia e no Estado. Implica sobremaneira a apreensão das novas tendências de participação da juventude e acolher a sua crítica ao estilo e à falta de representação dos seus interesses por partidos de esquerda demasiado cristalizados e envelhecidos. Implica finalmente romper com o sectarismo que vem impedindo o diálogo e a negociação entre os partidos de esquerda e com o PS. Só através de uma reconfiguração politica à esquerda e com o eventual surgimento de novos protagonistas é que será possível inverter a situação criada pela vitória da direita.

A Renovação Comunista sublinha que as tarefas imediatas que se colocam passam por combater qualquer tentativa de desmantelamento da Constituição com que a Direita pretende abrir caminho para o seu programa liberal.

Importa gerar a mobilização popular para defender todos os activos sociais da nossa economia das consequências nefastas da crise

Impõe-se iniciar um debate sobre a futura governabilidade à esquerda para retirar o país da grave crise em que se encontra e conquistar um desenvolvimento autónomo livre da interferência das instituições financeiras internacionais.

Importa ainda erguer no plano nacional e europeu a luta para regular e colocar na ilegalidade as actividades do capitalismo especulativo ao mesmo tempo que o país deve gerar um pólo financeiro público para a dinamização da resposta económica à crise, em moldes renovados, no objectivo de alcançar uma expansão sustentada.

No seu pluralismo a esquerda saberá encontrar os protagonistas e as soluções para retomar o futuro.


 
Artigo de Cipriano Justo
Enviado por Cipriano Justo, em 17-06-2011 às 22:22:35
Tem toda a razão e obrigado pela sua atenção ao artigo.

Cipriano Justo
Artigo de Cipriano Justo
Enviado por Margarida Martins, em 16-06-2011 às 23:26:08
No seu artigo de opinião com o título “Uma esquerda pequena, muito pequena” publicado no Público de 16 do corrente, escreve Cipriano Justo (dirigente da Renovação Comunista) que houve “quase oitocentos mil eleitores que viraram as costas à esquerda parlamentar e ao centro-esquerda (...). A penalização destes partidos foi naturalmente desigual: o PS (...) contribuiu com 64% das perdas; o BE (...) foi responsável pela fuga de 29% (...) o PCP (...) assistiu a uma deserção de 7%“.

Houve de facto 783.758 votos perdidos: 509.527 pelo PS (65%); 269.089 pelo BE (34%) e 5.142 pela CDU (0,65%).

Perante tão grosseira discrepância parece-me que é devida uma pronta correcção. Fico a aguardar.

Margarida Martins

PS: os resultados eleitorais encontram-se aqui: http://www.legislativas2011.mj.pt/#none

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