25 DE JULHO DE 2009, SÁBADO
POR: Cipriano Justo
Os comunistas sabem nadar?
Leia a última colaboração de Cipriano Justo para o nosso site. Uma reflexão sobre o papel dos comunistas na actual conjuntura política.
Quando, nos regimes democráticos, as organizações comunistas substituem a via insurreccional da conquista do poder pela via eleitoral devem tirar dessa decisão todas as consequências e não se ficarem pela nostalgia das gestas heróicas da clandestinidade. As quais são, ganhar e perder eleições, obter maiorias absolutas e relativas, estar no poder e na oposição, necessitar ou não de fazer coligações. Neste último caso, e não estando em causa situações extremas a apelar para governos de salvação nacional, há-de sempre colocar-se a questão do sistema de alianças. A menos que as condições políticas as tornem inviáveis ou inúteis, equacionar com quem e em que condições está indicado partilhar a responsabilidade da governação é um exercício que os comunistas devem sempre equacionar. Faz parte da sua história, principalmente após o ascenso do nazi-fascismo.
Durante 40 anos, até à queda do Muro, os exemplos rarearam. Quer a democracia-cristã quer a social-democracia estavam impedidas de qualquer aproximação ao campo comunista. Depois disso, o recuo e fragmentação das organizações comunistas, os anos de euforia do neoliberalismo e a emergência de outras formações à esquerda da social-democracia transformou esta questão num exercício de especulação teórica sem qualquer tradução no plano político. Mas a partir de 2008, com as mudanças políticas verificadas nos EUA, uma crise económico-financeira a assolar todos os países e a direita europeia a emergir como força dominante, a questão do sistema de alianças voltou à ordem do dia. Para o caso de não se querer que a saída da crise seja hegemonizada pelo campo do costume. Mas também porque se tornou mais nítida, na sua composição, a configuração do bloco social capaz de imprimir maior dinamismo à evolução da actual situação política. Trata-se, em todo o caso, de um processo de escolha a partir da análise de uma situação instável. O que, na prática, acaba por envolver elevados graus de incerteza, uma vez que exige a ponderação do histórico de cada formação em presença. Porém, mais do que a prospectiva, tem sido quase sempre a retrospectiva a ditar o que fazer. E a retrospectiva, representando conhecimento acumulado, acaba por ser o indicador mais confiável para a tomada de decisões mas também aquele em que a realidade está mais cristalizada. Dando a sensação de segurança, o histórico, pela sua imutabilidade, é ele próprio um obstáculo à exploração de novas combinações.
O histórico das formações políticas representa uma tendência. Mas uma tendência é, por definição, uma representação simplificada de uma série de acontecimentos conjunturais; serve como indicador de análise da realidade, mas não capta a sua variabilidade. E no entanto é o conhecimento da variabilidade, a conhecida e a projectada, que permitem identificar os momentos em que se deve intervir com maior oportunidade. Por reacção, mas também por antecipação, o que importa é accionar os meios tendo em vista as alterações que se querem obter. No caso dos comunistas é reaprender a nadar para conseguirem alterar a tendência da corrente.