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13 DE DEZEMBRO DE 2009, DOMINGO
FONTE: Público
POR: Cipriano Justo
O Outono da esquerda parlamentar
A esquerda parlamentar juntou os seus votos à direita para aprovar o que foi designado por "pacote anticrise"
O Outono já tinha chegado quando, em 11 de Outubro, apesar das recusas de convergência da esquerda parlamentar, a direita sofreu uma pesada derrota na eleição para a Câmara Municipal de Lisboa, tendo saído vencedora uma lista liderada por António Costa abrangendo o PS e vários sectores da esquerda extraparlamentar. O Outono já ia adiantado quando, em 28 de Novembro, a esquerda parlamentar juntou os seus votos à direita parlamentar para aprovar o que foi designado por "pacote anticrise".

No caso de Lisboa, não fossem os esforços de concertação programática entre António Costa, Helena Roseta e José Sá Fernandes e o amplo movimento de apoio que suscitaram entre os lisboetas, e a direita teria ganho uma posição política chave na manobra de recuperação do seu desaire de 27 de Setembro. Com a sua tradicional sabedoria, os eleitores declararam nas urnas o que constitui uma evidência política há muito reconhecida: salvo raras excepções, em tudo na vida é admissível a negociação e o compromisso, desde que não a comprometa ou inviabilize. E que se saiba entendimentos entre o centro-esquerda e a esquerda não fazem parte do rol dessas excepções. Nem deviam constituir uma raridade.

Na última sexta-feira de Novembro, teriam sido suficientes os cem votos da direita e do centro-direita contra os noventa e quatro do centro-esquerda para fazerem aprovar o "pacote anticrise". E a abstenção, pelo menos, da esquerda parlamentar, para se dar um sinal aos portugueses de que mesmo quando se está e faz oposição não vale tudo. Do que se estava a tratar não era propriamente de medidas para se preservar alguma espécie em vias de extinção. Era legislação cujo conteúdo e objectivos se espera que do lado da esquerda e do lado da direita haja interpretações bem demarcadas. Contudo, a esquerda parlamentar, imaginando-se num aquário à prova do escrutínio de quem lhe mereceu a confiança eleitoral, anulou as diferenças que a distinguem da direita parlamentar, levantando-se em uníssono com ela para aprovar um conjunto de medidas de duvidosa relevância para os fins em vista.

A esquerda parlamentar parece esquecer-se que o centro-direita e a direita têm deputados suficientes para fazerem da agenda parlamentar uma arma apontada à governabilidade. Dir-se-á que o que o Governo tem a fazer é governar à esquerda para prevenir outro 28 de Novembro. Mas, na altura das consultas pós-eleitorais, qual foi o caderno de encargos que a esquerda apresentou a José Sócrates? Quer-se fazer crer que a vida parlamentar tem uma lógica interna de trade-offs à qual é difícil escapar; que ser oposição é um estatuto que encurta distâncias porque o adversário é comum, seja ele qual for; que a condição de parlamentar é uma legitimidade adquirida pelo voto popular, suficiente para a esquerda suspender a qualquer momento a sua condição. Não é por semanalmente a esquerda parlamentar estar frente a frente com os representantes políticos da direita que a direita se torna menos direita. A direita é a direita, period. A menos que a Assembleia da República tenha a rara propriedade de conseguir retirar alguma direita à direita e alguma esquerda à esquerda.

Dirigente da Renovação Comunista


 
Não entendo
Enviado por Maria Celeste Silva Ferreira, em 13-01-2010 às 00:40:20
Não consigo entender a preocupação pelo facto de os partidos da esquerda parlamentar terem estado de acordo com os partidos da direita, tanto mais que se trata de algumas medidas aprovadas pelo PS e apenas pelo PS na legislatura anterior e com a oposição de todos os restantes. Acresce que algumas destas medidas foram defendidas na própria campanha eleitoral pelos vários partidos de oposição ao PS como seja, por exemplo, a questão do Pagamento Especial por Conta, que é uma completo aberração e até um abuso. Deixo no entanto esta pergunta ao Cipriano Justgo:- Então os partidos da esquerda não podem entender-se, em situações esporádicas, concretas, e o PS já pode. Não será que o PS se vai entender com o PSD (nem que seja pela abstenção deste) sobre o Orçamento. E o PS já pode?

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