17 DE MAIO DE 2008, SÃBADO POR: Catarina Fidalgo Uma reflexão sobre o filme de Abdel Kechiche “O segredo de um Cuscuz†"É uma história sobre emigrantes mas podia ser apenas uma história sobre trabalhadores. Ou talvez não.
Esta Europa aniquila o sonho básico de qualquer homem, emancipar-se face ao seu empregador, validar a sua vida apropriando-se do fruto do seu trabalho. Mas quando já perdemos a esperança os nossos heróis conseguem deter-nos num interminável compasso de espera. Um balançar de ancas sofrido e exausto faz pasmar os tristes carrascos. Um esforço que não acaba nunca, de geração em geração."
A LUTA DE CLASSES E UM PRATO DE CUSCUZ
Uma reflexão sobre o filme: “O segredo de um Cuscuz†de Abdel Kechiche
A teia de afectos envolve-nos.
Somos embalados numa densa intriga da vida doméstica a transbordar de humanidade.
Todos os diálogos são prenhes de significado polÃtico sem que este ofusque a questão central do filme: o amor.
Há uma grande dose de encantamento mas sem ingenuidade nenhuma. Pelo contrário.
A Europa é cÃnica e insolente. O seu retrato faz-nos corar de vergonha.
As mulheres deste filme são gigantes de força. Os homens tentam estar à altura e quase todos conseguem.
A famÃlia surge como uma unidade matriarcal onde a mulher discute tudo: desde a crise sindical aos implantes de silicone.
Somos esmagados pelo desempenho de uma jovem actriz, Hafsia Herzi. A sua personagem alia uma inteligência mordaz a um erotismo candente. O seu magnetismo está captado de uma forma arrebatadora. Mas o fascÃnio que ela nos provoca radica mais uma vez no seu único propósito: o amor.
É uma história sobre emigrantes mas podia ser apenas uma história sobre trabalhadores. Ou talvez não.
Esta Europa aniquila o sonho básico de qualquer homem, emancipar-se face ao seu empregador, validar a sua vida apropriando-se do fruto do seu trabalho. Mas quando já perdemos a esperança os nossos heróis conseguem deter-nos num interminável compasso de espera. Um balançar de ancas sofrido e exausto faz pasmar os tristes carrascos. Um esforço que não acaba nunca, de geração em geração.
Mesmo que seja apenas para que a luta continue…
Catarina Andrade Fidalgo
17 de Maio de 2008
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