19 DE OUTUBRO DE 2007, SEXTA FEIRA
POR: Martins Coelho
A Quente!
Todos ganharam! Os britânicos conservaram as “red linesâ€, ficaram de fora de tudo o que não quiseram e alargaram um pouco mais o Canal da Mancha; os italianos levaram em triunfo o seu deputadozinho; os polacos a sua Ioannina e mais um juiz, etc. Os outros terão uma estóriazinha, falsa ou verdadeira para contar no regresso aos seus, para não ficarem mal na foto de famÃlia.
A Quente!
Dia 19 de Outubro de 2007, à s 01h, Sócrates e Durão subiram sorridentes ao palco para anunciar o fim feliz da peça. Fora um êxito, a encenação da CIG que afinal não era CIG tinha sido perfeita, as pequenas birras nacionalistas e eleitoralistas tinham dramatizado quanto baste a peça e dado o picante necessário à curiosidade e material para a imprensa. Todos ganharam! Os britânicos conservaram as “red linesâ€, ficaram de fora de tudo o que não quiseram e alargaram um pouco mais o Canal da Mancha; os italianos levaram em triunfo o seu deputadozinho; os polacos a sua Ioannina e mais um juiz, etc. Os outros terão uma estóriazinha, falsa ou verdadeira para contar no regresso aos seus, para não ficarem mal na foto de famÃlia.
E a Europa, no dizer da dupla S/D, também ganhou um instrumento de trabalho para o seu radioso futuro no séc. XXI. Pode-se beber finalmente o champagne.
O Tratado Constitucional foi maquilhado em Tratado de Lisboa, atiraram-se fora com sÃmbolos como a bandeira estrelada e a ode do Beethoven para dar o ar de que a UE não é federal. Mas não é obrigatório, quem quiser pode andar com a bandeirinha e ouvir a Ode à Alegria. A moeda e o Banco Central Europeu ficaram, com a economia não se brinca. O neo-liberalismo também, mais a mais a flexi(segurança?) vai no bom caminho, as deslocalizações podem continuar no espaço europeu etc.. Os grandes interesses económicos esfregam as mãos, o complexo militar-industrial tem em perspectiva belos negócios.
O resto é o mesmo, 95% foi recuperado segundo a autoridade na matéria que se chama Valéry Giscard d`Estaing: Presidente Europeu, ambivalente Alto Representante para a PESC que é do Conselho e da Comissão, menos comissários, alteração nas votações por maioria qualificada, acabam os pilares mas a PESC continua intergovernamental e com as cooperações reforçadas vai poder avançar a caminho da PESD, mais podres para o Conselho, Comissão e PE etc. É a UE à la carte, todos os arranjos e velocidades são possÃveis.
Todos ganharam mas a democracia representativa levou mais uma grande paulada. Por cá antes não houve debate sério sobre o assunto, nem parlamentar nem polÃtico. Agora vai tudo andar na brasa para consumar a assinatura no dia 13 de Dezembro, não dando tempo para se conseguir consultar os quatro calhamaços com centenas de páginas. Depois é facto consumado, antes das eleições europeias e para entrar em vigor a 1 de Janeiro de 2009.
Os juristas, advogados e outros especialistas em direito comunitário têm emprego garantido com ou sem flexisegurança. Vai ser preciso um GPS para encontrar o caminho no emaranhado dos tratados.
A democracia participativa talvez lá para o séc. XXII, ou queriam que explicassem a pessoas simples a complexidade do Tratado, matérias tão sérias e áridas só acessÃveis a elites. O povoléu poderia depois votar não em referendos por maldade, ou vinganças mesquinhas contra os seus governos, ou por incapacidade e despeito por não entenderem os grandes valores em jogo e em seu próprio proveito.
Finalmente vai aparecer por aà alguma esquerda risonha e feliz com as promessas anunciadas. Afinal parece que por via UE, com ar modernaço, regressam os velhinhos amanhãs que cantam!