10 DE JANEIRO DE 2013, QUINTA FEIRA Cipriano Justo O grande salto atrás O ano de 2013 inicia-se com uma garantia: o governo trocou definitivamente os portugueses pelo único objectivo que, apesar de ser uma miragem, procura fazer dele a razão de todas as medidas de austeridade incluÃdas no orçamento de estado, e aquelas que prepara para tomar no quadro do que designou por refundação das funções sociais - o salvÃfico regresso aos mercados em Setembro, mais precisamente no dia 23. Para o governo é uma espécie de vale tudo, de jogar todas as fichas numa derradeira jogada. O desemprego aumenta, não estivessem empregados. As falências sucedem-se, paciência. Os despedimentos disparam, o que se há-de fazer. O PIB cai, há-de crescer. A imigração regressa, boa viagem para os que partem. A pobreza alastra, a caridade que cumpra a sua missão. Não tendo conseguido, ao fim de dezoito meses de governação, cumprir nenhuma das metas com que se tinha comprometido, resta-lhe o argumento com o qual quer fazer crer aos portugueses que valeu a pena terem empobrecido. A bandeira do governo é agora trocar de prestamista.
É verdade que nos últimos três meses, principalmente desde a manifestação de 15 de Setembro, que se desenvolveu e enraizou na população a consciência de que o governo tinha ficado por sua conta. A dimensão da transversalidade da oposição à s suas polÃticas, traduzida na densidade nunca vista de manifestações, greves, concentrações, petições, comentários, opiniões, é um sinal demonstrativo dos prejuÃzos causados nas condições de vida de praticamente todos os portugueses, cujos efeitos imediatos já se fazem sentir no plano individual, com as organizações caritativas sem mãos a medir para os pedidos de ajuda, mas também com implicações, no médio prazo, nos indicadores de desenvolvimento humano do paÃs. Se este é, sumariamente, o diagnóstico social da situação portuguesa, faltam as respostas polÃticas que hão-de inverter esta situação. A principal lição da intensa luta social presente durante todo o ano de 2012 é de que não basta um coro imenso de protestos e manifestações de oposição para que os dias deste governo cheguem ao fim. Mas, por outro lado, também não existem condições polÃticas para uma solução à italiana, que fizesse uma espécie de transição pacÃfica até à s eleições de 2015. Com a actual composição da Assembleia da República seria abrir querelas partidárias e inter-partidárias com consequências imprevisÃveis. Por essa razão, dar a voz aos portugueses será sempre o caminho mais curto, e o único democrático, para resolver as crises polÃtica, social e económica, que essas sim, há muito estão instaladas. Interromper uma governação que está a colocar o paÃs de pernas para o ar não é abrir uma crise polÃtica é, principalmente, parar com os estragos que PSD/CDS estão a causar. E parar, nas actuais circunstâncias, é a prioridade do momento. Mas há uma condição indispensável para que os portugueses ultrapassem a linha do protesto e invadam o território da alternativa. É saberem qual é o bloco partidário que a irá liderar e qual é o programa polÃtico que irá ser sufragado. Sem estarem claras para os eleitores estas duas condições, o ano que agora começa até poderá redobrar de protestos quanto à s medidas deste governo, mas a lógica da aversão à incerteza irá sempre prevalecer. Contando com o apoio maioritário dos deputados da Assembleia da República, a confiança institucional do Presidente da República e o respaldo da famÃlia partidária europeia, só uma oposição merecedora da confiança dos portugueses é capaz de criar uma dinâmica social e polÃtica capaz de derrotar esta coligação. Fora desse quadro, do género, cada um por si e depois logo se vê, o risco é de serem os partidos do governo a encontrarem uma solução para chegarem à s eleições de 2015 em melhores condições de as disputarem do que as actuais. Dirigente da Renovação Comunista | 2024 2023 2022 2021 2020 2019 2018 2017 2016 2015 2014 2013 2012 2011 2010 2009 2008 2007 | |