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18 DE SETEMBRO DE 2010, SÁBADO Antnio Bica A necessria integrao dos ciganos nas sociedades em que vivem Os ciganos constituem grupo social que vive no meio da sociedade dos pases em que residem considerando-se distintos e separados dela. Mantm nesses pases a cultura correspondente das sociedades tribais. Nas sociedades tribais s os membros da tribo eram considerados como iguais. Os exteriores eram entendidos como gente sem a mesma dignidade, distintos e, em rigor, no merecedores da solidariedade e respeito devidos entre os membros da tribo. Por isso os casamentos deviam ser feitos dentro do grupo, regra imposta e raramente transgredida nas sociedades tribais, garantindo a manuteno da sua individualidade.
Com o desenvolvimento comercial e a consequente unificao poltica em largas reas geogrficas, o que teve incio por volta do sculo 6 antes de Cristo e culminou na Europa com o Imprio Romano, as identidades tribais tenderam a apagar-se, o que foi potenciado no fim do Imprio Romano pela generalizao da converso voluntria ou forada da sua populao ao Cristianismo. Apesar disso mantiveram-se, na Europa, excepes: os judeus e os ciganos, que, tendo origem tribal, conservaram a cultura correspondente, para o que contribuiu no terem adoptado o cristianismo como religio. Todavia os judeus e os ciganos tm entre si grande diferena: Uns (os judeus) baseiam a sua cultura em um livro (a Bblia), que lem, ensinam uns aos outros, comentam e interpretam, o que lhes d a vantagem de, por isso, serem letrados e cultos e, em consequncia, terem conhecimentos que do capacidade a grande percentagem deles para enriquecer. Embora a religio que seguem proba cobrar juros e mande praticar a equidade, consideram que essas normas apenas so de aplicar entre eles. Sendo, em grande percentagem, letrados e cultos, no deixam de cultivar valores de tipo tribal, que alguns, mais racionais, abandonam por os considerarem sem razo, entre eles, recentemente, o conhecido msico de jazz, Gilad Atzmon, nascido em 1963 em Tel Aviv, de nacionalidade israelita, que participou como militar do exrcito de Israel na desumana invaso de 1982 do Lbano contra os libaneses e os palestinianos a refugiados. Declarou esse msico, hoje com nacionalidade britnica e a viver na Inglaterra: Abandonei o conceito (que tinha) de pertencer a povo eleito (por Deus) e transformei-me num ser humano comum. Sinto-me feliz por isso. Outros os (os ciganos), pelo contrrio, no se interessam por saber ler e escrever, vivendo pobremente de esmolas que mandam aos filhos pequenos pedir a no ciganos e de pequenos negcios fraudulentos com estranhos sua comunidade e furtos. Os ciganos e os judeus, por constiturem sociedades de valores culturais de tipo tribal, tm os traos comuns de considerarem os exteriores ao respectivo grupo como outra gente, no tendo que seguir, em relao a eles, as regras de solidariedade e de respeito que consideram de observar entre os membros do seu grupo, e de proibirem o casamento fora do respectivo grupo, o que o tende a perpetuar. Em relao aos judeus havia grande animosidade nas camadas populares, na Europa medieval, especialmente na Espanha e em Portugal, por serem frequentemente exploradas pelo judeus ricos, que emprestavam dinheiro a juros altos e agiam como duros cobradores dos impostos e das prestaes senhoriais por conta dos reis e da grande nobreza, actividades que no podiam praticar entre eles. Por os judeus serem em grande percentagem cultos e ricos, na Espanha e em Portugal, foi feito grande esforo, que, na falta de resultados, passou a violncia, para lhes fazer perder o cimento religioso da sua cultura tribal com converso ao cristianismo. O rei e a grande nobreza sempre defenderam os judeus da ira das camadas populares, s se tendo voltado contra eles quando o incipiente desenvolvimento da economia burguesa, em que predominavam judeus, comeou a ameaar a ordem econmica senhorial. Quanto aos ciganos, sendo pouco numerosos, pobres, itinerantes, vivendo de pedir esmolas, de pequenos negcios (sem se preocuparem por serem fraudulentos desde que com no ciganos), e de pequenos furtos, dificilmente se fixando nos povoados, e por isso no sendo causa de escndalo apesar da sua indiferena prtica religiosa crist, ningum se preocupou com eles, nem mesmo a Igreja Catlica que nunca desenvolveu actividade organizada e consequente para a sua converso ao cristianismo. Em Portugal, na regio de Lafes os ciganos nunca tenderam a parar, que, sendo pobre, no era favorvel a esmolas que compensassem, a negcios, nem a pequenos furtos. Os ciganos preferiam as maiores vilas e as cidades para montar as suas tendas durante dez a quinze dias, a pedir esmolas e fazer negcios nas feiras, e os campos do sul onde era mais fcil pr os burros a pastar nas grandes propriedades dos agrrios do que nas escassas leiras dos pequenos agricultores de Lafes. A expulso pelo governo francs de ciganos, neste vero de 2010, idos recentemente da Romnia para Frana, foi objecto de discusso noticiosa e poltica. assunto que merece reflexo, procurando entender-se a razo da sbita deslocao de bom nmero de ciganos da Romnia para a Frana; a razoabilidade ou irrazoabilidade da sua expulso pelo governo francs; o problema que constitui a existncia num pas de uma comunidade de cultura tribal que considera dever manter-se aparte, no se sentindo obrigada a respeitar as regras de convivncia e respeito mtuo que entende dever observar no seu interior, impondo aos seus membros a observncia de costumes, entre os quais se destaca a obrigao de casamento dentro do grupo, que levam manuteno indefinida da cultura tribal. A ida em grande nmero de ciganos da Romnia para a Frana deveu-se a a Romnia integrar actualmente a Unio Europeia e por isso ser livre a circulao dos ciganos romenos no espao europeu. O interesse deles em instalar-se em Frana resulta de, vivendo em grande parte de pedir, as esmolas dadas por franceses, por serem mais ricos do que os romenos, tenderem a ser mais avultadas. Sobre a prtica da expulso dos ciganos romenos pelo governo francs de considerar no razovel. Se as regras comunitrias permitem a livre circulao de cidados europeus, devem ser respeitadas independentemente de serem ciganos ou no. Questo mais complexa a da existncia, dentro de um pas, de uma ou mais comunidades que consideram no integrar o conjunto dos cidados do pas em que vivem e de que so nacionais, com a consequncia de no sentirem obrigao de respeitar as regras de convivncia e respeito mtuo que entendem de observar no seu interior. E, porque essas comunidades de cultura de tipo tribal tendem a perpetuar-se pela proibio do casamento fora do seu grupo, o problema social e consequentemente poltico que constituem tende a no ser solvel, o que, ao longo do tempo, tem levado a exploses de violncia espontneas ou organizadas pelo poder pblico, como aconteceu com os judeus no ocidente da Europa na Idade Mdia, no sculo 19 nos pases eslavos e, mais recentemente, com judeus e ciganos na Alemanha nazi. A integrao dos ciganos no espao da Unio Europeia poder no ser difcil, desde que se consiga fazer diluir os valores culturais segregacionistas que os perpetuam como comunidade separada. Para isso haver que levar, por persuaso, no por imposio, os filhos dos ciganos a frequentar a escola sem interrupes, em estabelecimentos fixos, e, de preferncia, em regime de internato quando os ciganos so itinerantes como frequentemente acontece. As escolas, incluindo os internatos, tero que ser da melhor qualidade para que se consiga bom aproveitamento escolar e consequentemente a aquisio no imposta dos valores culturais bsicos observados no pas e das regras de convivncia. Se as famlias ciganas aceitarem deixar que os seus filhos frequentem nestas condies a escola, de prever que em poucas geraes os ciganos abandonem prticas de comportamento antissociais, integrando-se plenamente nas sociedades dos pases em que vivem. de esperar que as famlias ciganas resistam a deixar os filhos frequentar a escola em estabelecimentos fixos, porque os pem a pedir esmola, o que uma das suas principais fontes de rendimento. Haver por isso que sobrecompensar as famlias ciganas pela perda de rendimento que os seus filhos no obterem, pedindo, as esmolas que normalmente conseguem. Sobrecompensando-as, de prever que, sabendo que os seus filhos so nas escolas bem tratados e ensinados, sendo bem compensadas pelos rendimentos que perdem deixando-os frequentar a escola, os deixem frequent-la. O que a Unio Europeia gastar com isso, se a aco for por ela financiada, o que mais razovel por o problema ser de toda a Unio Europeia dado o direito de livre circulao no seu espao e os ciganos no estarem igualmente distribudos pelos diversos pases que a integram, ser pequeno investimento em relao ao correspondente benefcio, que da plena integrao dos ciganos nos pases em que habitam resultaro as vantagens da sua normal participao na economia, de que se mantm, em regra, margem, e do fim da tenso social que a sua cultura marginalizante e potenciadora de conflitos cria. Os ciganos conseguem obter razovel rendimento pondo os filhos a pedir, com os pequenos negcios e os furtos a no ciganos. Um caso exemplar conheo passado h quase 50 anos na regio de Lafes, em Oliveira de Frades: Duas famlias ciganas desentenderam-se em Pinheiro de Lafes e agrediram-se. Da refrega resultou um cigano ferido a tiro. A GNR interveio e o cigano agressor foi detido, acusado em processo penal e julgado. Da deteno at ao julgamento passaram-se largos meses. A famlia do agressor no o abandonou. Acampou junto da vila onde estava preso a aguardar o desenrolar do processo e o julgamento. O advogado que o defendeu questionou o chefe da famlia cigana sobre a razo por que no se fixavam numa terra para a trabalhar com emprego fixo. Respondeu: J o tentmos, mas o que se ganhava para pouco dava. O que recebemos pedindo e dos nossos negcios d bem mais. | 2022 2021 2020 2019 2018 2017 2016 2015 2014 2013 2012 2011 2010 2009 2008 2007 | |