19 DE JULHO DE 2024, SEXTA FEIRA
FONTE: RC
POR: Cipriano Justo
OBJECTIVO: GANHAR LISBOA
As eleições autárquicas ocupam a primeira etapa na construção de uma grande vitória democrática nas futuras legislativas. É sobre isso que Cipriano Justo vem argumentar a favor de se prestar a máxima atenção e o maior investimento em grandes vitórias autárquicas como preliminar da construção de uma maioria entre esquerda e centro-esquerda no paÃs.
Desde que a extrema-direita emergiu no panorama polÃtico português com uma representação eleitoral que faz dela a terceira força polÃtica, que se elevou exponencialmente a importância do entendimento dos partidos do arco da esquerda – PS, PCP, BE, Livre e Verdes. Além das vantagens que tal acordo formal traz para as condições de vida da população, de que os entendimentos de 2015 são o exemplo que até ao momento se pode invocar, embora limitado e reduzido à reparação do que o troikismo estragara, é no plano polÃtico que se coloca o principal argumento para que ele se concretize: derrotar as aspirações da extrema-direita. Essa derrota, sendo necessária no plano nacional, é igualmente válida nos planos dos concelhos e das freguesias. Embora as comparações, quando se trata de resultados eleitorais, tenham limitações e enviesamentos, os recentes resultados eleitorais conseguidos pela Nova Frente Popular, em França, acalentam a expectativa de que é possÃvel derrotar a extrema-direita quando as esquerdas se unem.
Dentro de pouco mais de doze meses teremos eleições autárquicas. Já faz parte da rotina pré-eleitoral, sempre que se verifica uma eleição, seja para que órgão for, afirmar-se que esta é a mais importante de todas. Desta vez, em 2025, se não for verdade, anda lá muito perto. Após uma derrota estrondosa nas eleições europeias, a extrema-direita não irá querer deixar fugir a oportunidade para retomar os valores que conseguiu nas eleições legislativas antecipadas deste ano, onde elegeu 50 deputados. Aliás, uma sondagem recente mostra o regresso em força deste sector partidário. Repetir o fracasso das europeias punha em causa o seu projecto polÃtico que é tornar-se a principal força polÃtica portuguesa. Mas para que isso se verifique, é necessário que a implantação local seja significativa, que esteja presente nos vários órgãos autárquicos, e num número significativo de concelhos. Sem o exercÃcio de levar até à freguesia e ao bairro a mensagem partidária, não existe partido polÃtico que consiga sustentar uma eventual vitória nacional. É partindo destas contas que os partidos de esquerda devem raciocinar.
Com o ressurgimento das forças que nos anos 30 do século passado levaram ao descalabro o território e as populações europeias, agora sem camisas negras, mas representando os mesmos interesses económicos e sociais, há que encontrar a resposta que melhor as possa derrotar. Não é válida a desculpa de que isso aconteceu há muito tempo. Coloca-se, então, a necessidade de fazer escolhas: a afirmação partidária, ou a derrota da extrema-direita? Há quase 90 anos, a escolha recaiu no cálculo partidário, e vimos no que deu; quando se percebeu o que ela era, já era tarde, lembremo-nos dos acordos de Munique. Actualmente, se alguma força partidária continuasse no mesmo registo, seria excluir-se do contributo que é imperativo dar para travar essa batalha polÃtica. Naturalmente que de entre as múltiplas eleições que se vão realizar em todo o paÃs, uma por cada concelho e freguesia, a eleição para os órgãos que vão governar Lisboa assume uma capital importância, será sobre ela que se irão retirar ilações polÃticas para o futuro. Faltar à chamada neste confronto seria abdicar de uma oportunidade para colocar os interesses que a extrema-direita representa na última fila. Daà que o resultado dessa eleição vá condicionar o seu crescimento: dois maus resultados seguidos pode significar que, em Portugal, o fenómeno não terá passado de um epifenómeno. E quem está em melhores condições para que isso se verifique é a união das esquerdas, é ela que detém o poder, tanto para governar bem a capital, como já aconteceu no perÃodo em que Jorge Sampaio foi seu presidente, como não hesitará em controlar os seus métodos para se insinuar e implantar nas instituições públicas. Não é aceitável que, sob a capa da permissividade do actual presidente, a capital esteja transformada num laboratório onde a extrema-direita vai testando os seus instrumentos de ofensa aos valores democráticos. Um governo autárquico em que esta formação polÃtica anda á solta, vilipendiando as instituições e personalidades polÃticas, sob a capa da liberdade de expressão, é um governo cúmplice do apelo à desordem e ao caos, condições necessárias para que a extrema-direita encontre razões de causa.
Mau grado as proclamações que se têm ouvido, favoráveis a esta solução, esta união só poderá vir a ser construÃda se dela fizerem parte o PS e o PCP. Irão ser estes dois partidos que irão ditar para que lado se irá inclinar o combate por uma vitória em Lisboa. Porém, não basta selar um pacto, os eleitores exigem compromissos, e estes terão obrigatoriamente de constar de um programa que será tanto mais eficaz no combate à quelas forças quanto dele fizer parte as soluções para os problemas mais sentidos para os residentes no concelho. É retirando à extrema-direita as suas bandeiras que se esvazia o cofre onde elas estão guardadas. Não devendo ficar à porta, a ideologia terá de estar presente, representando, em relação à s eleições autárquicas, a linha condutora do processo de construção de um programa de bem-estar para todos. É sob esta premissa que se torna possÃvel sair vitorioso em Lisboa.