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21 DE FEVEREIRO DE 2014, SEXTA FEIRA
Carlos Luís Figueira
Os desafios à convergência da esquerda
(Manifestação do 1º de Maio de 1974)
As próximas eleições europeias a disputar em Maio vão desenrolar-se num quadro marcado pelas grandes dificuldades que o País atravessa decorrentes das políticas neoliberais praticadas por um governo que tudo fará para atrair o PS para um compromisso político em torno das saídas do programa de assistência financeira. É perante este contexto que urge continuar a reflectir em torno de que proposta se podem erguer de forma a fazer convergir esforços à esquerda para enfrentar uma situação politica particularmente difícil como a que estamos a viver e de que modo os mesmos se poderão projectar para além das europeias tendo em vista especialmente as eleições legislativas do próximo ano.
A posição isolacionista, assumida como doutrina pela direcção do PCP; as disputas à esquerda por ganhos eleitorais num mesmo espaço; alguma ingenuidade na forma e expressão publica que assumiram (antes de se percorrer no silêncio algum caminho) as propostas de convergência por parte do movimento 3D ; as interrogações acerca do papel a ocupar pelo Livre; os sistemáticos ataques ao PS colocando-o, a propósito de tudo e de nada, no mesmo plano de responsabilidades que se podem com justiça assacar ao PSD e CDS; as declarações proclamatórias, ou juramentos, provindos do Bloco de Esquerda, anunciando que jamais se entregariam nos braços do PS ; tornam, entre outros embaraços, o quadro mais difícil a qualquer entendimento com a radicalização do discurso a servir de veículo ao exacerbamento das diferenças.

Diferenças que não se negam a sua existência e no caso da EU podem ser até particularmente relevantes, a exemplo : saída ou não do Euro, ou mesmo da UE ; Contrato Orçamental ; democratização do funcionamento das diversas instâncias europeias; formas e conteúdo para a saída da Troika, com ou sem novo resgate ou programa cautelar, em suma, como pagar a divida e continuar a financiar-se, ou seja, que posicionamento perante os credores e que papel atribuir ao BCE neste contexto.

Aqui chegados convém lembrar que o isolacionismo actual fomentado e defendido pela direcção do PCP não corresponde à sua história sempre marcada pela preocupação de convergência e de procura de unidade com sectores diversas da sociedade portuguesa, postura centrada no principal objectivo a atingir. Antes do 25 de Abril o derrube da ditadura, após o 25 de Abril no combate ao centro direita e à direita, em defesa da Constituição e das conquistas de Abril.

Os exemplos são múltiplos e convém lembrar alguns porque sobre esta importante matéria por desconhecimento ou preconceito se tem vindo a assistir a silêncios e deformações que não correspondem à realidade seja ela longínqua ou mais próxima. Foi assim, entre múltiplos outros factos, na desistência da candidatura à presidência da República de Arlindo Vicente a favor de Umberto Delgado, em 1958 ; nas negociações de listas comuns da CDE para as falsas eleições de 73 ; na preparação do Congresso de Aveiro no mesmo ano ; no primeiro de Maio de 74, nos primeiros governos provisórios e, já mais próximo, a realização de um Congresso Extraordinário para decidir apoiar Mário Soares à Presidência; ou, o apoio a Sampaio à Presidência da Câmara de Lisboa e Presidência da República, ou mesmo nas negociações com Vieira da Silva para assegurar a sustentação do sistema de Segurança Social, no governo chefiado por Ferro Rodrigues.

Os exemplos que aqui se trazem em relação ao PCP decorrem da importância que lhe atribuo, como importante formação politica na actual situação e nesse sentido no reconhecimento do papel que poderia desempenhar num processo de convergência à esquerda, ao invés da reiterada posição politica que remete para a alteração da correlação de forças eleitoral com o PS a condição essencial para que possa haver qualquer possibilidade de cooperação, convergência ou mesmo alianças políticas, com impacto real na governação do País.
Porque tal falácia envolta numa linguagem pseudorevolucionária, esconde um profundo desvio de direita que a direcção do PCP arrasta desde há muito e que na prática se traduz em sacrificar interesses estratégicos a ganhos eleitorais de curto prazo, sem que por sua vez os votos que lhe são dados tenham qualquer reflexo no seu contributo para a aproximação e convergência de forças de esquerda e centro esquerda para alterar politicas na governação do País.

E, porque assim tem sido, tal não constitui sinal de quem que se proclama como força transformadora da sociedade. Já Cunhal em múltiplas situações assinalava que a vanguarda não se proclama, ganha-se no processo da luta de classes e no entendimento, atracção e confiança que formos capazes de obter junto da classe média. Ganha-se pelos reflexos que possam ser obtidos na governação do País.

No quadro complexo em que a vida do País decorre, atacado por um governo que em tosse convulsa pretende arrasar tudo o que representam direitos de civilização conquistados por sucessivas gerações, com desemprego e endividamento crescente, favorecimento a bancos e grandes empresas, venda ao desbarato de importantes recursos públicos, empobrecimento da população e destruição de largas camadas da classe média, torna-se imperativo acima de todos os egoísmos partidários, sem ignorar dificuldades nem o peso que representam os diversos protagonismos emergentes, não perder estrategicamente de vista, que o grande desafio que se coloca à esquerda, é a formação de um compromisso politico com o centro esquerda cujos efeitos se possam fazer repercutir já no imediato nas soluções pós Troika tal como nas eleições legislativas de 2015.

Enfrentamos um adversário hábil, sem escrúpulos, que vende a mentira diária como a verdade inquestionável, a coberto de uma comunicação social que em boa parte se passou comodamente para os confortáveis salões do poder.

Negociar não é sinónimo de abdicação de posições próprias significa, antes de mais, definir o objectivo central em que a convergência se deve situar. Para o conseguir é necessário preparação politica, conhecimento da realidade em que nos movemos, lealdade, capacidade de iniciativa para, acima de todos os individuais protagonismos, a cada passo, não perder de vista o essencial a atingir.

Na situação em que se encontra o País perante o governo e as forças que o compõem, será desastroso que tais esforços não se venham a concretizar. Se a luta popular é indispensável na resistência a esta politica é lúcido considerar que a mesma não corresponde hoje, subjetivamente, à natureza do que se está a perder em termos de direitos sociais, políticos e desvalorização da força de trabalho. A presença da proposta política torna-se assim num elemento nuclear para dar força, confiança, para alcançar a derrota deste governo e desta politica.

Se existem socialistas, na direcção e fora dela, que estejam disponíveis para se render a soluções de compromisso com o PSD /CDS no quadro de um acordo de bloco central, haverá seguramente muitos outros que desejariam ver realizado um entendimento com forças à esquerda e mais ainda se à esquerda se manifestar inequivocamente essa vontade.